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Uma noite de sonho

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Em 31 anos de vida, não me lembro de ter passado uma semana sem assistir a um jogo. Se não tivesse, eu assistia video tape. Ontem, fazendo as contas com a patroa, descobri que assisto entre 400 e 500 jogos por ano atualmente. Um absurdo, concordo.

Lembro de muitos deles por profissão. Alguns deles por curiosidades ou detalhes. Mas nenhum deles chega perto daqueles que vi garoto, torcedor, sem ter que analisar nada. E hoje vou contar a história de um deles. SPFC x Guarani, 1986, final do Brasileirão.

Ao longo destes mais de 13 anos de jornalismo, perdi uma coisa muito valiosa e ganhei outra que vale tanto quanto. Deixei de ser um torcedor fanático, sequer faço questão de acompanhar meu time se tiver outro bom jogo acontecendo. Mas, ganhei o interesse pelos outros clubes.

Um dia posto sobre como tudo isso foi acontecendo e o quanto me é estranho ainda ver família e amigos ligando pra comemorar uma defesa do Ceni, enquanto assisto Flu x Bota sem nem saber direito quanto está o jogo do SP. É uma longa história. rs

Mas, naquele dia, que não me recordo se foi quarta, quinta ou domingo, eu tive uma noite especial pra qualquer torcedor.

Eu já estava de pijama, tinha 8 anos. Pronto para dormir, quando o Careca fez o gol salvador. Comemorei ao lado do meu pai e do meu irmão na sala, pulamos, fizemos festa e, na euforia, ouvimos a informação na TV: “O time do SP vai direto pro Morumbi, sem nem tomar banho”.

Imediatamente arrumamos uma roupa e fomos ao estádio. Eu, meu pai, minha mãe e meu irmão. Chegamos lá, acho que o time ainda estava em Campinas. E ali, onde entra o onibus (portao 1), ficamos esperando.

Não havia ninguem ainda. E as pessoas foram chegando e a gente no carro, ouvindo rádio esperando pra saber onde eles estavam e quando chegariam.

Foram horas de espera, até que o time chegou. E quando chegou, não havia multidão de torcedores, mas sim multidão de sócios com acesso ao lado de dentro do saguão. Eu era sócio, e quando o time chegou comecei a implorar pro meu pai que queria ver o Careca, meu ídolo na época.

O coitado me meteu no ombro e, no meio daquela muvuca, foi metendo cotovelada até chegar perto dele. Careca estava nos ombros de alguém, e eu fui chegando por cima das pessoas até ele.

Foram minutos que, hoje, sabendo do perigo de esmagamento que meu pai sofria ali embaixo, não teria sequer pedido. rs

Até que, num esforço final, meu pai conseguiu empurrar o ombro pra frente até que eu encostasse a mão nas mãos do Careca. Ele havia feito o gol do titulo há cerca de 3 ou 4 horas. E eu ali, chorando de emoção em ver meu ídolo de perto, dividindo uma pontinha do dedo dele com mais algumas pessoas que queriam o mesmo.

Mais ao lado, Gilmar.

Meu pai já queria me descer e eu pedi: “Me leva no Gilmar!!! No Gilmar”.

E lá foi o coitado, comigo nos ombros, até o goleirão.

Nele cheguei mais fácil, e dei um abraço de campeão. Ídolo!!!

Quando meu pai me botou no chão eu já não tinha a menor noção do que estava acontecendo. Só tinha aquela alegria absurda de criança quando chega perto de um ídolo.

É muito bom! Quem conseguiu viver isso quando moleque sabe do que eu estou falando. Parece que estamos diante do super homem, que somos diferentes só por termos apertado a mão deles.

Na saída ainda consegui um autografo do Sidney e um do Bernardão.

Minha mãe e meu irmão no carro esperando, e eu ali no meio do povo pulando e gritando o nome de todos eles.

Foi um dia incrível, além de um jogo memorável.

São lembranças que não saem da minha cabeça. Dos milhares de jogos que vi depois disso, poucos me trazem tão forte a lembrança quanto este.

E não só pelo jogo, pelo gol, mas pelo que vivi após tudo isso.

Outro dia fui a um evento e dei de cara com Careca, Muller, Silas, Nelsinho, Oscar e Dario. Todos na mesa sentados, e eu junto, entrevistando eles todos pra ET.

Achei aquilo uma merda. Preferia estar no ombro do meu pai tentando me aproximar deles.

Bons tempos…

abs,
RicaPerrone