Uma grande derrota

Talvez você pense que o título tem a ver com o placar do jogo contra o Vasco hoje, mas não tem. Até porque o Botafogo fez um bom jogo e merecia melhor sorte, inclusive.

Uma vez, quando decidi usar uma charge, um cara muito inteligente e marketeiro de primeira linha me explicou que no Brasil a primeira coisa que você deve fazer para conseguir sucesso é parecer alguém de sucesso.

Eu não quis fazer o tipo e virei essa “figurinha” pouco formal e que já perdeu campanhas publicitárias por “ser gordo” ou por não ter aquela formalidade esperada de pessoas públicas.  Enfim, foda-se.

A questão é que isso sempre foi um ponto muito claro na minha cabeça:  Amamos o que é de fora porque nos parece perfeito. Menosprezamos o que é nosso porque conhecemos seus defeitos.

O Botafogo é um clube de futebol e como tal vende sonhos, paixão, imagem.  A ele, seja por um rebaixamento, a chegada de um Seedorf ou um título, tudo gira em torno do que isso causa no torcedor. Em momento algum um grande clube pode agir pequeno, mesmo que ele enxergue uma necessidade extrema a sua frente.  E essa parte eu e o Botafogo não concordamos.

Eu sei que precisa pagar salário. Eu sei que está uma merda e que o Botafogo deveria fechar, abrir como “Futebol Clube” e novo CNPJ do zero ao invés de acreditar que tendo o pior faturamento dos 12 grandes poderá pagar em breve a maior dívida deles. Mas dizer isso aos cardeais de 90 anos é um insulto. E aos jovens de 20, uma breve realidade não opcional.

O Botafogo não tem time pra jogar a série A. Tem camisa. Não tem dinheiro pra jogar a série A. Tem camisa.  Não tem estrutura pra jogar a série A. Mas tem camisa.

E aí nessa lógica maluca e apaixonante que move um clube contra tudo e todos, vemos a camisa se rebaixar. E então surge aquela dúvida incômoda: E se não tiver mais a camisa?

A Dolly não anuncia na Globo. E se  você for na Veja anunciar coxinhas da sua tia numa propaganda tosca, talvez saia de lá com um “não” mesmo com o dinheiro nas mãos.  É uma questão de status, posicionamento de marca, até mesmo uma forma de “parecer” bem sucedido para se valorizar.

O Botafogo precisa desses miseráveis reais que hoje compram sua camisa porque foi surrado por administrações anteriores. Mas eu acho que se assumisse amanhã a Rede Globo falida, abriria mão de estrelas, alguma estrutura e até de alguma qualidade. Mas nunca do que representa a “Rede Globo” pra um anunciante.

Cada vez que o Botafogo se vende por pouco ele passa a valer aquele pouco.  E cada ação dessas desvaloriza mais o clube, a camisa, é uma bola de neve.

E não, por favor, não entenda isso como uma idéia de quem espera apequenar o clube. Ao contrário! Na minha cabeça o Botafogo deveria enfrentar a sua iminente falência financeira tentando manter a única coisa que ele não pode perder com dívidas: sua camisa.

A não ser que lhe coloque um preço. Aí, sempre haverá comprador.  Mas nem sempre tem volta.

abs,
RicaPerrone