Um vilão não resolve

Para todo e qualquer efeito é preciso um vilão. Sem ele, a mídia não pára e, com ela em cima, ninguém trabalha em paz.  A bola de neve do futebol é repetitiva, chata, quase sem graça. Mas existe e como um roteiro adaptado vai trocando de camisa sem nem mudar, as vezes, o personagem principal.

Sabe o que eu acho do Flamengo em Potosí? Nada. Porque não é possível avaliar um time jogando na altitude, primeiro do ano, em crise, tentando claramente tocar a bola e não ser pressionado. Não foi. Tomou gols por erros individuais, como sempre. Mas não chegou a ser pressionado em sequencia em nenhum momento do jogo.

Volta com totais chances de passar pois é muito mais time que o tal do Potosí. Portanto, o que vimos lá não é base pra conclusão alguma. O que me chamou atenção foi a forma como vi o jogo. Desta vez, online, lendo o twitter o tempo todo. Entre surtados e apaixonados, foquei nos ponderados.

São tantas as dúvidas, as reclamações e as constatações que a única certeza que tive foi de ver uma multidão caçando uma bruxa que talvez nem exista.

Bruxas, no plural, é mole. No Flamengo o que não falta é isso. Mas ao procurar um só a burrada só vai aumentar e a crise piorar.

Aquele time planejado em 2011 tinha, quando foi feito, um goleiro muito bom, dois laterais ofensivos bons, um zagueiro de seleção (Alex), uma promessa da base, um festival de volantes adorados pela torcida, um meia contestado por muitos e adorado por outros, um armador fora de série, um craque e um centroavante que sempre fez muitos gols.

Aí você pega o Flamengo em 2012 e percebe que o lateral direito não joga o que sabe há 1 ano. O zagueiro saiu, ficaram 2 sem condições de sequer causar otimismo. Os volantes, ontem ídolos, hoje não acertam nada. Airton e Willians, incontestaveis, hoje merecem banco. Thiago se foi, Renato segue mal, o argentino não fez nada o ano todo e o Deivid parou de fazer gols há mais de um ano. Ronaldinho não recebe, logo, não joga.

E tudo isso deve ser culpa do acaso, do planejamento, da falta de responsabilidade e cobrança individual nos jogadores, do técnico, da diretoria, do parceiro, do preparador e de mais sei lá quem.

É impossível imaginar que tudo aquilo tenha se desmanchado durante o ano com a culpa sendo de apenas um ou dois.

É óbvio, o técnico vai levar.  Ele tem culpa, errou também, mas se levar essa sozinho vai blindar outros tantos que também erraram e seguirão errando.

Você pode cobrar que mude o Renato pro Botinelli com os 2 jogos de 2012 como argumento. Não mais do que isso. Porque os volantes não estavam em condições de substituir ninguém. E time sem salários e luvas, você sabe, não joga.

Sou a favor da saída do Luxemburgo (em negrito pra ver se ajuda), já disse em dezembro. Mais do que discordancias táticas ou técnicas, acho que a presença dele hoje blinda o time das cobranças. É fácil ter um técnico que a mídia odeia e que a torcida não simpatiza. Tudo cai nele, e além de para-raios é um baita personagem.

O que mais me causa espanto é que a reação é toda voltada pra um vilão, e pra variar, o mais básico de todos.

Ninguém está perguntando como ganhar jogos sem zagueiros, porque alguns jogadores esqueceram como joga futebol e porque um lider de grupo tem que liderar funcionários que não estão com seus pagamentos em dia.

Amanhã, se ele sair, estes problemas não vão sumir.

O vilão tem nome, é o de sempre. Talvez o Flamengo deixe de jogar com 3 volantes e jogue com 2 meias.

Fora isso, meus caros… nada mudará.

Nem o time, nem a direção, nem os erros e nem a eterna mania de achar que mudando um técnico você consegue consertar um problema que, muitas vezes, passa por caráter, administração, ego, dinheiro e até má fé.

Qualé a novidade no Flamengo ter gastado e ter um time “fanfarrão” que joga quando quer? Qual a novidade em abrir o ano em crise com pagamentos em atraso? Qualé o espanto?

E a torcida desesperada achando que garotos de 18 anos são solução pro clube, jurando ver um “novo zico” entre os recém promovidos a profissionais?

Muda o técnico, mas não muda nada.

Os vilões são vários e jogar nas costas de um só é pior do que não jogar nas costas de nenhum.

A não ser que você realmente ache que o Ronaldinho esta jogando o que sabe, o Deivid, o Leo, o Willians, etc, etc, etc. Aí sim, faz sentido.

Mas não, não faz sentido.

abs,
RicaPerrone