Um país sem educação

Eu moro num condomínio bacana na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.  Ele é grande, tipo um bairro com diversas ruas e dentro dele uns 30 prédios separados. Aqui tem apartamentos de 4 milhões e de 700 mil.  Mas dá pra dizer que a maioria dos moradores aqui é de classe média alta, no mínimo.

O problema começa quando ao abrir esse texto eu já tenho que ter “dedos” para dizer que moro bem. Afinal, não estar fodido no Brasil é quase uma ofensa pessoal.  Mas, felizmente, é onde moro há alguns anos.

Pela proximidade do Projac, da Record e por ser mais afastado do centro, aqui moram dezenas de famosos, artistas, donos de empresas, jogadores de futebol e políticos.

O cara que agrediu os cachorros da namorada e foi flagrado pela camera aterrorizando o mundo pela frieza e maldade, mora aqui.  Alguns políticos bem ladrões moram aqui.

Sexta-feira dois funcionários do meu prédio subiam no elevador e reclamavam. Perguntei o que havia acontecido e eles disseram que o segurança da área externa os proibiu de pegar uma fruta que já havia caído da árvore. “Só morador!”.

Oi?!

Outro dia eu fui numa reunião de condominio sugerir que fizessem uma churrasqueira aqui! Adoro, mas na planta original não fizeram e nosso prédio ficou sem. Uma senhora de altíssima condição social levantou e disse que: “Não”.   Emendou na frente de quem fosse: “Churrasco lembra pagode, aí junta gente que não é boa, toma cerveja, vira bagunça. Churrasco não”.

Eu me retirei porque minha vontade não era discutir mas sim quebrar a cara dela. Não temos churrasqueira. A posição dela ganhou a votação.

No natal, não lembro qual, o rapaz que cuida da piscina havia ficado de fora da festa dos funcionários do condominio. Seus amigos todos e ele organizaram a festinha de fim de ano e, por ser terceirizado, ele teve que sair da festa. Ordem do síndico.

O condominio custa caro aqui.  E essa semana o prédio teve que trancar a academia e deixar as chaves na portaria porque os controles remotos do ar condicionado foram roubados.

Toda semana alguém roubava as pilhas. Eu entendo, quem mora num lugar desses não pode comprar pilhas. Agora foram os controles remoto que alguém de carro importado ROUBOU da academia para não ter que consertar o dele.

E em meio a tudo isso eu vejo centenas de discussões que remetem todos os problemas do país a “educação”.  E concordo. Mas quando falamos em educação, pedimos escolas.

E então eu me pergunto se por ter feito ou não uma boa escola eu teria roubado um doce na padaria ou um controle remoto na academia. Descubro rapidamente que não.

Eu talvez não tenha condições um dia de dar ao meu filho uma ótima escola, uma puta universidade e, portanto, terceirizar a educação dele em 100%.  Mas eu prometo, com toda certeza do mundo, que ele vai devolver o troco errado do caixa do supermercado.  Que ele não vai roubar ninguém e achar que está tudo bem. E que não será um playboy escroto que acha que é melhor do que os outros por ter isso ou aquilo.

Porque enquanto faltar escolas, temos argumentos. É culpa do governo, foda-se.

Mas e se um dia não faltar mais? Seremos descobertos?

abs,
RicaPerrone