Timão dos milhões

O Corinthians acertou. Quando muitos questionam os altos investimentos em jogadores de nome, outros procuram entender como isso funciona tão bem em grandes clubes da Europa. A fórmula simples parece ter sido aplicada no Corinthians recentemente e os resultados são bem fáceis de serem notados.

Se o dinheiro será bem aplicado ou não, cabe outra discussão. O interessante é notar como é possível fazer o torcedor gastar com o clube, desde que se tenha algo que o atraia.

E não é o 1×0, a vitória, estar entre os primeiros. Isso interessa, ajuda muito, mas não é só isso. Torcedor quer consumir sonho, não realidade. E Ronaldo, Roberto Carlos, assim como os galaticos do Real Madrid, vendem mais do que qualquer título.

O título vem numa semana qualquer. O sonho dura 12 meses, se renovando a cada derrota. O impossível de vender é a falta de prespectiva. Enquanto houver um Ronaldo a 5 kilos de ser brilhante, o torcedor estará acompanhando e consumindo.

Estes números se refletem em vendas de camisas, pay per view, ingressos e patrocinadores.

Hoje quero citar o exemplo dos ingressos, que é mais nítido e claro.

O Corinthians joga no Pacaembu, estádio para 35 mil pessoas. Sua média de público no Brasileirão é de 26,5 mil pessoas.

No Rio os clássicos dividem renda, como deveria ser em SP, mas graças a briguinha idiota entre SP e Corinthians, não é mais assim. Então, considerando clássicos e portanto 14 jogos numa casa de 80 mil lugares, o Fluminense faturou 8 milhões de renda bruta.

O Timão, em 13 jogos num estádio que cabe menos da metade, faturou 11 milhões.

Estes são primeiro e segundo colocados no ranking de faturamento bruto do Brasileirão.

Aí vem o líquido, que é o que o time de fato leva pros cofres.

O Corinthians levou, limpinho, 7 milhões de reais. O segundo colocado é o Cruzeiro, que levou 2,5.

É quase 3 vezes mais o valor do segundo colocado, considerando que ainda existem outros 11 times grandes no campeonato.

O Timão tem o ingresso médio mais caro do campeonato. E isso é bastante justificável, pois mesmo quando você diz que é uma torcida “classe C”, como dizem por aí, você acha tranquilamente uma parte dela disposta a gastar alto pra acompanhar o time, desde que haja atração pra isso.

Ronaldo, jogando ou quase voltando, é atração. Roberto Carlos é atração. Vitórias atraem, mas veja você como caiu o público do Fluminense mesmo ainda na liderança. Caiu porque mudou de estádio, mas também porque o futebol diminuiu.

Torcedor não paga pra ver qualquer coisa. Aquela tese de que “vencendo tá bom” nunca funcionou na Europa, e deve ter motivos.

Aqui, pela primeira vez, um clube investe alto esperando receber alto em troca disso. E tem esse retorno.

Basta ver que o SPFC, tricampeão brasileiro, teve média de 24,2 mil pessoas por jogo nos 3 anos em que conquistou o caneco, a maioria deles sobrando na liderança. E isso num estádio de 70 mil lugares.

O Flamengo, de Pet e Adriano, craques de nome que chamam torcedor, levou o Brasileirão 2009 sem liderar o torneio. E a média ficou acima de 40 mil.

Como o Corinthians, em 2008, na série B, levou média de 24 mil no Pacaembu, que cabem 35.

O que motiva o torcedor não é apenas o resultado. É a perspectiva.

Quando você tem ídolos, gera essa perspectiva. Paga-se pra esperar um drible mágico, mesmo que ele não venha. Paga-se para esperar que, talvez, o Ronaldo jogue. Mesmo que não jogue. Paga-se pra ver o Roberto Carlos, não apenas pra ver uma vitória.

Tá na hora do Brasil perceber que futebol, como negócio, pode explorar muito mais do que a vitória e a derrota. É o que fazem os europeus, que não tem nada pra jogar além da Champions League o ano todo e ainda assim conseguem ser noticia todo santo dia no mundo todo.

Não falamos do Barcelona porque ele venceu a merda do Getafe. Falamos porque ele tem Messi, Iniesta, etc.

O Real galático não ganhou nada. Mas foi o clube mais falado e vendido pela mídia naquele periodo. Prejuizo não deu, pode ter certeza.

Ao torcedor cabe apenas torcer pra ganhar. Ao dirigente, enxergar um meio de transformar paixão em dinheiro. E não é difícil.

abs,
RicaPerrone