Sofrido como eles gostam

Começa o jogo no Engenhão. O tal “sem freio”, invicto, galático e popular Flamengo assiste o Coxa tocar a bola na direção do nada.  Lá se vão 20, 30, 45 minutos de nenhum futebol.  30 mil incrédulos rubro-negros se misturam entre ameaças de vaias e tímidos aplausos hipócritas.

O time estava uma tragédia. Não dava pra entender. Que Flamengo era aquele?

Cadê o time que vinha dando show? Cadê o Ronaldinho? Cadê o Thiago Neves? Deivid, meu filho, você não tinha voltado?

Estava tudo muito estranho. Tão estranho que fantasminhas de América-MEX, Santo André, Goiás. entre alguns outros fracassos em casa pouco justificáveis já rondavam o Engenhão.

O segundo tempo é corrido, pegado, o time muda de postura. Mas ao mudar, ao voltar com iniciativa e indo pra cima, encontra um Coritiba que se acovardou ao extremo.

Satisfeitos em “anular” o Fla, o Coxa sentou no resultado e meteu o time inteiro atrás. Virou um ataque contra defesa daqueles que você custa a descobrir se é muita ruindade do ataque ou perfeição da defesa.

Era um mistão de má atuação do Flamengo com uma superpopulação alvi-verde no setor defensivo.

Jogo horrível, tosco, pobre, sem nada pra se aproveitar.

Mas, era o tal do Flamengo. Aquele time que adora sofrer quando ninguém nem desconfia que isso seja possível. Assim como adora vencer quando ninguém aposta nele.

Hoje, onde era muito difícil sofrer, óbvio que seria sofrido.

Aos 45… Jael.  Mais um herói rubro-negro feito em 5 minutos.  O “Vandinho” da vez. O “Magno” da semana. Ou, quem sabe até, a real solução do problema.

Só o tempo dirá.

Tempo que não existe no futebol. Os 90 minutos de futebol questionável e atuações individuais altamente criticaveis sumiram.

Em seu lugar ficou apenas a vitória heroica no finalzinho.

Não é heroico vencer um jogo no fim podendo ter vencido antes. Mas isso cabe a quase todos, não ao Flamengo.

Eles gostam.

Reclamam, fazem tipo de que são super exigentes, que não aceitam nada que não seja o melhor.

Mentira. Eles adoram esse “sofrimento opcional” que é ser rubro-negro.

No fim, com Ronaldinho de braços abertos pra nação, as vaias viraram cantos de alegria e exaltação.

Aquela cornetada pronta, entalada na garganta que discursaria sobre a “vergonha de atuar 90 minutos daquela forma” sumiu.

Como mágica, virou a exaltação ao “Mengão sem freio, invicto, sofrido, rumo ao hepta” que tanto orgulha os seus.

Você se lembra dos passes errados, dos gols perdidos, os erros infantis e das péssimas atuações de Thiago, Deivid, Botinelli e Jr Cesar?  Não, né?

Mas daquele gol do Jael, da torcida enlouquecida e do Ronaldinho de frente pra ela no fim, regendo a orquestra mais famosa do mundo você se lembra.

Porque quando é pro lado bom, quando é pra esquecer os fatos e guardar apenas o sonho, futebol pode sim ser apenas resultado.

E hoje foi. Nada mais aconteceu no Engenhão. Apenas um gol, um drama, uma vitória, a liderança e uma nação sorrindo no final.

Pra que mais?

abs,
RicaPerrone