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Sobe pra ver

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Sobe pra ver

Eu sou jornalista, embora tenha vergonha de dizer e a exata noção de que não o pratico bem.  Não estou atrás da verdade, mas sim da paixão. Não busco furo, busco histórias fodas pra contar.  Torço, não sou isento, não quero fuder o entrevistado e nem mesmo aplaudir o adversário se ele for merecedor.

Não tenho amor pela profissão. Tenho amor pelo futebol. E se você ama jornalismo mais que futebol, você é meio bobo. Mas ser bobo não é crime. Então relaxa aí.

Quando eu não tiro minha carteirinha de imprensa para pagar ingressos e viajar com torcida é pela escolha simples de nunca deixar de ser um deles.  Pois quando deixo, meto um terno, ligo o ar e vou na TV dar aula do que já não sei mais o que é.

Eu vou pecar pelo exagero 300 vezes, outras 2 mil vezes pela paixão. Mas nunca vou cometer o absurdo que é tratar paixão com frieza ou tentar racionalizar futebol.  Não serei o porteiro da Disney avisando a criança que é um anão chinês dentro do Mickey. Deixa ele sonhar, caralho! Ele pagou pra isso.

Eu ouço todo dia que eu sou um fazedor de média com a torcida X ou Y.  São escolhas e a minha é simplesmente viver intensamente a paixão que tenho por futebol.  Então, se o Grêmio for a final da Libertadores, eu vou lá com eles e vou torcer junto. Talvez eu não esteja certo, mas com absoluta certeza eu volto de lá sabendo falar com o torcedor do Grêmio melhor do que quem ficou na cabine cagando regra.

Há quanto tempo você jornalista não paga ingresso pega fila e sobe lá? 10 anos? 20 anos? O que você ainda lembra de passar perrengue pelo seu time e tomar porrada sem saber de onde veio pra ver um jogo de futebol?  Tem “fortes emoções” no estúdio da TV?

Quantas viagens de onibus chegando num país diferente pela Libertadores você fez pra saber o que é? Quantas pedradas você levou?

É uma pica jogar fora do Brasil.  É pedrada, hostilidade, polícia jogando água, escolta mal feita pra deixar a gente apanhar, torcida encurralada, horas e horas presos no estádio.  E aqui, Arenas! Hoteis espetaculares em silêncio, translado 5 estrelas e nenhum perrengue.

Olha, meus caros. Existe uma diferença entre ser educado e o gordinho bobo “paga lanche” da escola.

Eduque o seu filho pra ser o “paga lanche”. Não tentem educar uma sociedade confundindo os bons modos com ser otário.  Talvez por serem otários vocês adorem tanto uma seleção que comprou uma Copa, nos dopou em outra e se neguem a torcer pra nossa por “isenção”.

Isso é ser otário.

Sem violência, mas com pressão e nenhuma simpatia. Porque é assim que somos tratados. Vocês, de terno, chegando de carro da emissora, não sabem o que é passar 1 hora tendo que se esconder nas cortinas pra não tomar uma pedra de 1 metro na cabeça.

Não desejo. Mas as vezes acho que vocês precisam.

O país das maravilhas que você vive não é o nosso, “Alice”.  Duvida? Então tira a credencial e sobe lá pra ver.

abs,
RicaPerrone