Roda presa

Um sujeito entra num restaurante que ele gosta muito e frequenta ha anos. O garçom então lhe comunica que os preços subiram 80%.

Assustado, questiona o motivo. Se a comida melhorou tanto assim? Na verdade, não. O garçom lhe explica que o restaurante está sem grana e por isso a comida até deu uma piorada, mas que pra melhorar no futuro ele precisa pagar agora mais caro.

Você acha que alguém continuaria ali sentado ou qualquer pessoa de bom senso levantaria e iria embora?

Essa é a lógica do futebol brasileiro.

Eu contesto. E explico.

Um estádio cheio interfere muito mais no jogo do que um jogo na ida ou não do torcedor ao estádio.

E se o jogo melhorar, as pessoas vão querer ir. Indo, se apaixonam, fidelizam, viram sócios, encontram vantagens nisso e o espetáculo melhora pra quem foi, pra quem viu na tv, pra quem anunciou na tv, pra quem patrocina o time, pros jogadores, pro futebol.

Quando eu cobro 60 reais num ingresso de um jogo ruim, eu estou dizendo a você que é muito mais negócio dar estes mesmos 60 pra NET e ter todos os jogos do campeonato naquele mês no seu sofá.

Eu não te apaixono, não te aproximo, desmotivo meu time, jogo menos concentrado, arrasto jogos ruins e ainda passo pro mercado e pro torcedor aquela imagem melancólica de um estádio vazio.

E assim, SE um dia a grana voltar, eu posso ganhar muito com bilheteria. Enquanto não acontece, eu perco vocês pro Manchester City, não ganho por outras vias e ainda amargo o insucesso do sócio torcedor.

Preço, pra mim, é simples. Quanto custa pra que as pessoas comprem? Custa 10? Então é 10.
Se com 20, metade das pessoas compram, é caro. Se com 30 vai encher 30% do estádio, é bem caro.

Não é uma discussão se vale 10 ou 60. É uma filosofia. Se cobra desde já os 60, ou se cobra 10, enche estádio e vai aumentando na medida em que se tem demanda, desde que sempre esteja cheio?

Eu não vejo um clube brasileiro fazer essa conta ao contrário. E então, remeto ao adorado modelo de gestão alemão e pergunto:

O ingresso pra ver o Borussia na Alemanha custa entre 10 e 50 euros. O salário mínimo deles é de 1500 euros. O nosso, 788 reais.

Sabe quantos jogos do Borussia um cara pode ver com seu salário mínimo? 150.

O torcedor, por exemplo, do Botafogo, pode ver 13 jogos com seu salário mínimo.

Estamos ou não tratando um conceito que tanto adoramos com burrice?

O futebol vale quanto o torcedor pagar pra ir. E quando forem sempre, com casa cheia toda semana, que seja a 5 reais, haverá um processo de fidelização pelos jogos grandes.

Então, o ST ganha vida. O torcedor que ontem só via pela tv vai ao jogo, descobre o que é torcer, esquece o Chelsea e compra a sua camisa.

A roda gira pros dois lados. Mas eu acho bem mais fácil e rápida pro lado contrário do que forçamos hoje.

Ingressos a preços que lotem o estádio. Não importa se vai ser 10, 20, 50 ou 5 reais. Mas lota-lo é fundamental.

abs,
RicaPerrone