Paralimpíadas no Metrô
Eu costumo usar o metrô quando posso. Ou seja, se ele vai até onde eu quero, eu prefiro do que o carro. E já cansei de notar a falta de educação do brasileiro em geral na hora de entrar, sair, sentar, deixar o outro passar. Enfim, um dos nossos problemas culturais.
O que vi essa semana na Paralimpíada me deixou com a sensação de estar diante de um legado.
No momento em que os deficientes se tornam as estrelas do evento, o que vemos quando olhamos para um deficiente muda. E eu achei muito emblemático um episódio que presenciei essa semana.
Um rapaz de cadeira de rodas se aproximou e imediatamente o grupo de pessoas que esperava para voar na porta recuou. Deram preferência. Mas ele não foi colocado ali como “coitadinho”. É difícil explicar mas havia admiração e não exatamente pena.
Ele entrou, nós entramos em seguida. Em alguns minutos ganhamos uma medalha, não me lembro qual. Mas a mulher que estava indo ao Parque Olímpico com a família anunciou: “Oba! Mais uma medalha! Ouro pra fulano em tal esporte!”. As crianças dela comemoraram, no metrô ouve uma tímida reação, e um dos garotinhos fez a coisa mais bacana que ele poderia no alto de sua pureza.
Foi até o cadeirante e deu a mão pra ele bater, como quem diz: “É nóis!”. Porque, de fato, quem ganhou a medalha pra “nós” havia sido um deficiente, e na pureza do garotinho agradecer ao cadeirante era como agradecer a “um deles”.
O rapaz sorriu, brincou com o garoto. O menino perguntou se ele praticava esportes, ele disse que ainda não mas que ia começar. Ao sair, naturalmente, todos abriram passagem e o garotinho ficou contando pra mãe que conversou com ele como quem havia conversado com alguém especial.
E então você poderá entender esse “especial” da forma que quiser. Mas na do garoto, o “especial” era a representação de um campeão, não de um “coitado”.
E se a paralimpíada inteira valer apenas para que uma criança não os olhe mais com pena e sim com respeito e admiração, acho que temos um legado incalculável.
abs,
RicaPerrone