Os merecidos classificados

Pode-se chamar de surpreendente a eliminação do vice-campeão de 2006. Mas não dá pra achar absurdo um bicampeão mundial ser líder de um dos grupos mais equilibrados da Copa. Ou dá?

Até dá, se considerarmos o que vem fazendo o futebol uruguaio nos últimos anos. Mas não dá, se levarmos em conta o peso de sua camisa perante México e África do Sul.

O que não dá é pra aceitar a França 2010. Não pela eliminação, pois isso poderia ser parte do jogo apenas. Mas a forma, o cenário, os problemas e a falta de respeito ao país.

Não trata-se apenas de futebol. A bandeira que sobe no início dos jogos nunca foi a da Federação, mas sim a do país. Ali, representa-se muito mais do que um time, uma safra ou um resultado. Representam parte de uma nação, seja ela qual for.

Perder é do jogo, e jamais condenei alguém pelo resultado. Não jogar, se acovardar ou não honrar a camisa que veste, aí sim, é pra se discutir e cobrar.

É óbvio que o time francês, no papel, é melhor que os outros 3. Tão óbvio que todos se surpreenderam com a crise no elenco. Fosse num time qualquer, não haveria tanta mídia e surpresa.

Tão óbvio quanto a atual realidade do futebol, que pode ter em Diego Lugano uma boa dose de personificação. É a raça, a luta, a entrega, a seriedade. Comprometimento total com o que está fazendo. Técnica ele não tem, é de conhecimento geral. Nem é o jogador mais “santinho” do mundo, pois é violento muitas vezes. Mas, com aquela liderança natural, honesta e exemplar, se torna um referencial emocional, mais do que técnico.

A França não teve Zidane, referencial técnico e emocional. Não teve um líder no campo, não teve alma, não teve respeito a camisa que veste. São jogadores que só não sairão dali totalmente desmoralizados porque parte deles levou o time a final em 2006. Outros, até, ao título em 98.

A África do Sul, coitada, não tinha muito o que sonhar. Sai da Copa, ainda, com uma vitória épica. Venceram a poderosa França,  algo pouco imaginável antes da Copa, e até bem possível dias antes do jogo.

Fica de fora, como era natural que ficasse.

O México, de futebol ofensivo e pouco prático, herda a segunda vaga dos franceses e sua guerra interna. Não quiseram, sobrou pros mexicanos, que agora devem enfrentar a Argentina e, infelizmente, não confio muito que possam derrota-la.

Seu jogo é muito pouco competitivo para encarar um time tão tradicional e catimbeiro. Melhor seria se fosse o Uruguai, para nós, é claro.

O grupo termina com uma lição. Aliás, várias.

A primeira delas é que futebol, hoje, requer mais comprometimento do que técnica. A segunda é que o primeiro passo para vencer um esporte coletivo é ter um coletivo. E a terceira é que o Dunga não estava tão errado assim quando privilegiou o bom ambiente entre o grupo do que o risco de cortar um dos seus para apostar numa novidade as vésperas da Copa.

Classificados os que mais mereceram.

abs,
RicaPerrone