Obrigado, garoto!

Garoto abusado, inteligente, cheio de vergonha na cara.

Raro talento que junta habilidade, velocidade e finalização num jovem absolutamente preparado para ser o que é.

Meninos se perdem, se comparam, se encontram novamente. São facilmente envolvidos por conversas de empresários, seduzidos pelo primeiro grande contrato, o carrão, aquela gostosa da televisão.

Com 19 anos só fiz merda e nunca tive 1% das oportunidades de faze-las que tem um jogador de futebol.  Sempre os “perdoei” por entender a dificuldade de lidar com algo impossível de se preparar.

Não há pai nem mãe capaz de explicar a um garoto o que fazer quando o mundo estiver aos seus pés enquanto seus colegas procuram solução para espinhas. Não há receita, apenas vocação e personalidade.

Lucas foi Marcelinho, voltou a ser Lucas. Foi Corinthians, virou São Paulo.  Foi revelação, titular, esperança, hoje é craque.

Aos 20, sai do Morumbi aplaudido não pelo título, menos ainda por um gol caindo todo desajeitado.

Lucas sai daqui tendo honrado a camisa que lhe deu um lugar ao sol. Entre tantos meninos que vendem seus valores em troca de um carro novo ou de um empresário que oferece uma vaguinha de titular no rival, ele ficou.

E ficou porque quis ficar, pois teve a chance de sair também.

Lucas correu e dividiu até sua última bola. Saiu do clube sangrando após ter dividido uma bola com um desleal argentino. E voltou pro segundo tempo sabendo que apanharia, mesmo de contrato assinado.

De raros valores e postura, não se fez um robô pra parecer humilde. Se expôs, deixou claro quem era, o que queria e fez.

Garoto de um clube, de uma torcida, de caneco nas mãos e camisa bem suada.

Garoto raro, cheio de gratidão e passado.

Por conseqüência, cheio de futuro.

Aquele que sai mas fica. Bem mais importante do que aqueles que ficam querendo sair.

Lucas é do São Paulo por tempo indeterminado, mesmo longe daqui.

Se o projeto era “trazer um ídolo”, o clube errou.

Era mais fácil ter criado um.

E criou.

Vai com Deus, moleque. Vai colher o que você plantou e depois volte pra casa pra contar como foi.

Não temos 100 milhões pra te dar. Mas temos 15 milhões de “muito obrigado” pra colocar na sua mala.

Cuida dela. Vale mais que os 100 milhões, garanto.

Obrigado, garoto.

abs,
RicaPerrone