O último dos moicanos

Quem faz muita questão do que parece ser é porque talvez não seja mas precise.  Eu cresci sendo o aluno da ultima fileira e vi muito aluno burro ser exaltado por parecer dedicado. Passei de ano igual a todos eles, cheguei no mesmo dia na mesma formatura, mas professor nenhum confia em aluno de chinelo na última fileira.

Renato é o menino que corre no intervalo, que sai antes do sinal tocar, que pede presença e sai da aula. Que passar 20 minutos no banheiro, que começa a guerrinha de papel.  Renato não parece inteligente. É o típico aluno que o professor jura que “não vai dar em nada”.

Neste caso pode trocar professor por imprensa esportiva. Com a diferença que professor estuda pra dar aula.

Jornalistas são chatos por vocação. E os esportivos mais ainda, pois são invariavelmente frustrados por terem feito de sua paixão o mais próximo que conseguiram sem ser protagonistas.  Nós contamos a história de analfabetos de fama e poder, o que irrita qualquer sujeito formado que ganha 1% do que ganha o “maloqueiro”

“O futebol é uma benção”, a gente fala quando vê um imbecil rico com um mulherão. Mas e quando nos dá o rotulo de “especialista”, não é?

Coloque lado a lado Renato e Rene Simões, sem conhece-los bem, 99% da imprensa contrataria o Rene. 99% da imprensa erraria.

Renato gosta de mulher, de praia, bebe, não usa terno, ri, brinca com situações que levam a sério demais,  vence, perde, empata, e se banca.  Não tem medo do que acham dele. Do ódio a idolatria, ele é o mesmo Renato de 1980.  Autêntico. Alguém que é e não alguém que parece ser.

O título da Libertadores não coroa apenas um mito que já era mito antes do jogo. Refaz perspectivas e ensina que nem sempre o melhor é o menino da fileira um.  Ser dedicado, ser vestido pela avó e não falar palavrão não faz daquele menino uma promessa de sucesso.  Diria que ate o contrário.  Ele provavelmente será o bobo da turma.

O bobo da turma é o neto que toda vó queria, que toda mãe se orgulha e que todo pai se preocupa.

Renato parece ser o que é. E de sunga, na praia, tomando uma gelada olhando bunda passar enquanto ouve um samba, ele entrega o que hoje, de terno, falando bonito e agradando jornalista, ninguém entrega.

Entreguem-se.  Vocês erraram!

“Aquele neguinho que andava
Descalço na rua e ao leo
Assobiando beethoven, chopin
Porém preferindo noel
Foi assim se trasformando
Num singelo menestrel”

abs,
RicaPerrone