O tiro na cabeça

Já vi a Conmebol dar muito tiro no pé. Sempre alguém deu um jeito aqui, outro ali, mancando e se arrastando, mas ainda caminhando.  Hoje o tiro foi dado na cabeça.

A decisão da final única em campo neutro não é uma decisão polêmica. É uma estupidez sem precedentes.  É o fim da alma do futebol sulamericano que envolve a paixão, nossa expectativa pelo “jogo em casa”, a festa que fazemos e as lendas locais de estádios onde o mandante raramente perde.

Vamos ter um repeteco de 2005. Lembra? Final em campo neutro, SP x CAP, Beira-Rio, 15 mil pessoas.  Uma das mais toscas e tristes cenas da história do torneio.  Se você não lembra é porque ninguém repete. E se ninguém repete é porque envergonha.

O Flamengo jamais será campeão contra o Boca “lá”. Será em “La paz”, pra 20 mil pessoas. 10 mil torcedores do Boca e 10 do Flamengo, todos com uma condição de vida fodida pra poder sair do país numa quarta-feira a noite ver a porra de um jogo de futebol.

Quem é o débil mental que estipula isso num continente enorme não interligado por um trem? Ele veio da Europa ontem e achou maneiro?

Porque diabos a gente não consegue ser quem somos? Que necessidade idiota é essa de sermos europeus em tudo? Porque diabos não podemos fazer o nosso futebol sem ter que copiar uma cultura que não nos cabe?

O futebol sulamericano há anos é judiado por gente que nunca foi a um estádio de futebol. Hoje ele foi estuprado. E como todo estupro, há quem defenderá o estuprador.

Torcedor de futebol é quem sustenta o futebol sulamericano. Quem banca o futebol europeu é fã. Não nos tratem como fãs, porque não queremos ser.

abs,
RicaPerrone