O maior do Barcelona

Talvez todos olhem pro Ronaldinho e entendam sua vida como um ídolo dos lances bonitos, um gol de falta na seleção notável, passagem por 7 clubes grandes e 100 jogos pela seleção. Esse é seu legado.

Títulos, tem. Mas não condizem com seu talento. Ao contrário de Messi e Cristiano, Ronaldinho nunca chegou no seu limite. Se chegasse, provavelmente entre ele e o céu haveria apenas Pelé.

Poucas vezes alguém com tamanho dom pisou no planeta. Ronaldinho nasceu pra jogar futebol.  E o fez. Enquanto sorrindo, o maior de todos. Quando o sorriso sumiu, todo o resto se apagou.

Por diversão. É só assim que ele funciona. Nunca foi trabalho, talvez profissionalismo nem tenha passado pela sua formação. Ele simplesmente nasceu para fazer aquilo e se divertia fazendo. Até que não era mais um prazer. E então, com toda forma física, toda a fama e condições para isso, nunca mais conseguiu repetir.

Nem todos sabem, mas o Barcelona é um case de sucesso recente. E esse processo nasce no Ronaldinho, maior nome da história do clube, e lhes explico os motivos (não é uma idéia minha, é um fato. Quem contou isso foi o CEO do Barcelona em palestra na CBF) :

Quando o Barcelona olhou pros números, o Real tinha 9 Champions e ele uma. Havia uma enorme diferença entre os dois mundialmente, que era ditada por resultados.  Embora o Barcelona fosse o “rival do Real”, ele notou que não vivia de resultados, mas sim de uma característica: o bom futebol.

Então, no começo da década de 2000, a diretoria do Barcelona traçou um plano de décadas. E criou 5 itens inegociáveis para seus valores como clube. O primeiro deles era “jogar bonito”.

Então você vai se assustar culturalmente e dizer que não faz qualquer sentido jogar bem e não vencer. Mas se você olhar pro lado em 10 minutos notará que amamos a seleção de 82, não a de 94. Amamos Ronaldinho e Adriano, não amamos o Belletti, que é mais campeão que os dois juntos.

Amamos o sonho. Nos apaixonamos por quem nos tira da realidade. E é disso que se trata futebol. O resultado, ora, é só um resultado. Ele eterniza, mas não é só isso que importa. Diria eu que nem é o que mais importa.

O Barcelona entendeu que precisava mesclar títulos com conceito. E então teve em Ronaldinho o tiro inicial de uma era brilhante de marketing, gestão de marca e futebol.

O mundo via o Barcelona pelo show. Ninguém se importava se ele seria campeão, tanto que 90% das pessoas tem a impressão que o Barcelona do Ronaldinho ganhava tudo. E não é o caso.

Dali por diante o clube aceitou a idéia, comprou o resultado que o Ronaldinho trouxe e se tornou o time do futebol bonito. O primeiro valor do Barcelona: “jogar bonito”.  Mourinho nunca será treinador do Barcelona. Porque o clube tem perfil. Sabe quem é, o que quer e porque é assim.

Sim, ao contrário de 100% dos nossos clubes, e diria eu que de 95% dos clubes do mundo. Raríssimos os clubes que tem a coragem de trocar resultados por um ideal. O Barcelona teve. E se teve foi porque Ronaldinho esteve em campo.

Este sujeito para de jogar sem sabermos quem ele é. Sabemos a voz do Assis, o que pensa o Assis, como age o Assis, mas o irmão… só vemos jogar e ouvimos falar.

Um ídolo que não conhecemos bem. Que por aqui deixou muito torcedor com raiva por conduta. Mas que adoramos o que ele fez.

E olha o que ele fez! Olha o que ele fez…

abs,
RicaPerrone