O Ganso que poderia existir

Dizem que talento é um dom divino sem explicação.  Dizem que muita gente tem talento, nem todas sabem usá-lo.   Dizem também que nada substitui o talento. E eu devo concordar que embora as vezes só a vontade possa supera-lo, não é regra. É exceção.

Mais importante que o talento, as vezes, só a ambição. E pode ser ela por um status, dinheiro, poder, fama, satisfação pessoal, realização de um sonho. Tanto faz. Mas o cara que consegue aliar talento e ambição não costuma passar sem ser notado.

Ganso tem o talento de um gênio. Usa os pés como um artista e é capaz de fazer o torcedor suspirar quando recebe de frente pra área livre de marcação.  Quando bem marcado, porém, vai sumindo. E quando contestado, não responde.  Quando responde, logo se acomoda com os elogios.

Tem jogadores que temos vontade de sentar numa mesa de bar com ele e tentar convencê-lo de que ele pode e deve entregar muito mais do que aquilo, que diga-se, já é notável.

Ganso tem 25 anos e qualquer pessoas que viu apenas seu talento em campo juraria que antes disso a 10 da seleção seria dele. E seria, se quisesse.  Mas contrastando com seu talento quase inacreditável há uma postura de quem faz sempre o “mínimo necessário” pra que possam acreditar e lhe dar o status de promessa.

O craque que hoje desfila no Morumbi tem futebol pra escolher a camisa 10 em qualquer clube do mundo. Mas não tem ambição pra isso. Sequer a do São Paulo ele segurou com firmeza, já que até outro dia era reserva.

Entre os surtos de genialidade, como o gol desta noite, e os momentos de frigidez, Ganso flutua no meio termo entre quem veio contar histórias e quem veio fazer história.

Seu futebol é irritantemente especial.  Sua ambição, não parece acompanha-lo.

abs,
RicaPerrone