O cara

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O cara

É preciso um terno, outro idioma e uma postura elegante para causar idolatria no povo brasileiro. Felipão grita, vibra, passa nervoso, xinga, não usa terno, faz o que fazia em 1990 e funciona.

O que pode ser mais irritante aos novos conceitos futebolisticos do que este sujeito?

Para muitos, especialmente os fãs de esporte, o futebol mudou. Pra dar certo é preciso uma reciclagem tática, técnica, mental, estrututal e não sei mais onde.  Um treinador brasileiro capaz de superar aqueles europeus geniais que ficam 18 anos num clube pra ganhar meia duzia de titulos?

Jamais.

É imperdoável o sucesso no Brasil. Repeti-lo com frequencia é um crime.

Felipão tinha que estar preso.

Joga na cara que sua “retranca” não faz seus times viverem de uma bola parada. Que com ele, em 12 jogos oficiais, a seleção ganhou os 12.

Que em 1 mes ele fez o time do Brasil desmontar a tal da Espanha, a poderosa Itália, o Uruguai, o tabu do México, o pobre Japão.  A geração fraca, os mil problemas criados para ter o que reclamar no programa da tarde ou na coluna de amanhã sumiram.

Porque Felipão, que não é o Guardiola, fez sumir.

Tinha gente querendo e jurando que o Guardiola seria o único sujeito capaz de dar jeito na nossa seleção. Pobre Guardiola, estagiário ainda onde o Felipão dá aula.

Quando o chamaram falaram em “retrocesso”.  Os mesmos que achariam um absurdo se um treinador de 25 anos assumisse o Corinthians, por exemplo.

Felipão não é sortudo em mata-mata. Ele é suficientemente inteligente para notar, sem 14 faculdades e cursos na Nasa, que o fator motivacional é mais do que fundamental num jogo deste tipo.

Que futebol se ganha no detalhe, e este detalhe muitas vezes é a confiança.

Mil teorias, cartilhas, bla bla bla. E quem é que vai la e resolve contrariando todas as aulas teoricas de “como fazer um time de futebol”?

O “velho” que dizem ter rebaixado o Palmeiras quando na verdade fez de um rebaixado campeão da Copa do Brasil.

Felipão é incontestável.

Em qualquer lugar seria a primeira e mais clara opção pra uma seleção. Aqui, não.

E de novo, abraçado a suas convicções, ele vence, convence e se prepara.

Sabe que nada disso adianta num país onde Zagallo é piada e Guardiolla solução.

Felipão é o melhor treinador que o mundo já viu.  Não por questões táticas e técnicas.

Mas por ter sido talvez o único cara a passar 20 anos convicto de suas idéias, ganhando com elas, sendo cobrado por isso e ainda hoje, quando juram ter inventado um “novo futebol”, lá está ele. Em 20 dias fazendo o campeão de tudo ser goleado pelo desacreditado time que não tinha padrão.

Felipão é um patrimonio deste país como Zagallo e tantos outros que precisamos com urgência aprender a idolatrar, não mais a questionar.

abs,
RicaPerrone