Nosso ouro brilha mais
Fosse Rafaela uma universitária branquinha, classe média e tivesse conquistado ontem a décima medalha do Brasil nos jogos, nós ficaríamos felizes por ela e só.
Rafaela é um exemplar de brasileiro médio. E por não ser favorita, por não ter nascido com a obrigação de vencer na vida, pelo contrário, nos comove e se transforma em heroina.
Choramos, vibramos, passamos a cobrar hipon de juiz de judô sem nem saber do que se trata. Ligamos pros amigos, comemoramos e gritamos no meio do dia em frente a uma televisão pela desconhecida Rafaela, que venceu um torneio de um esporte que não damos a mínima.
Passamos o resto do dia sem perguntar “e o Mengão?” nas ruas e passamos a falar “viu o ouro da Rafaela?”. E assim a vida segue, menos sem graça, com mais um exemplar de brasileiro que deu certo e que superou críticas estupidas e maldosas para dar a volta por cima.
E vencer, dar a volta por cima, calar quem te agrediu é o sonho de todo ser humano, especialmente do brasileiro vira-latas que se considera uma zebra desde o nascimento. Quando Rafaela nos mostra ser possível, sentimos todos o gostinho da vitória, da vingança, da dor e da glória.
Não, não adianta brigar com os fatos. Era melhor ganhar 200 medalhas por Olimpíadas? Pro esporte, sim. (leia esse trecho 9 vezes) Pra nós, brasileiros que nos enxergamos ali naqueles heróis, não. E antes que você pense que sou maluco, que prefiro perder a ganhar, eu explico de forma muito simples: você não teria se emocionado e sequer parado pra ver a medalha da Rafa ontem se já tivessemos conquistado 10.
E portanto, ela seria “mais uma”. E nada que é “mais um” faz diferença na sua vida. Somos tão empolgados com nossas conquistas porque elas são raras. E é isso que faz das Olimpíadas um evento de superação para nós, de colecionar resultado pra eles.
Então você é maluco e prefere ganhar 20 medalhas do que 100 numa Olimpíada?
Sou. Choro 20 vezes ao invés de apenas aplaudir 100 e me considero mais feliz por isso. Afinal de contas, a alegria não se mede por quantidade mas sim por intensidade. E nenhum ouro brilhará mais que o da Rafaela.
abs,
RicaPerrone