Não é o motivo

80 ou 60, é indiferente. O valor é aceitável pra uma cadeira cativa, uma numerada, algo mais preparado e confortável. Ao torcedor de arquibancada, aquele que fez e faz o futebol ser o que é neste país, não é sequer tolerável.

Se fosse por questões financeiras, fatalmente o futebol não seria o fenomeno que é. Vendemos paixão, e ela existe porque sempre foi possível a relação.

Quando você coloca um valor de ingresso popular inatingível ao povo está matando a paixão que o sustenta. Não é uma lógica de negócio, nem de mercado. É uma questão que não tem faculdade pra ensinar, nem passado profissional para exemplificar.

Numa empresa, numa gestão qualquer, você precisa lucrar. Mas vende um produto, e ele sendo bom, basta. No futebol você vende tudo que vende como fruto da paixão, não o contrário.

Tire o cara que não tem 60 paus do estádio, ele vai tirar o filho, e você, amanhã, mais um consumidor.

A idéia cobrada pela mídia de “gestão profissional” nos clubes é superficial e hipócrita. Não há um modelo de gestão ideal a ser seguido quando o produto está atrelado a muito mais do que sua qualidade, mas sim a sua proximidade.

Não vai impactar em 10 anos. Mas em 30, não tenho dúvida.

A camisa a 200 paus, o ingresso a 60/80, e lá se vai uma geração inteira disputando paixão a distância com times europeus.

Vão perder, pois além de não terem mais o fator da proximidade, terão uma parte da mídia prontamente contra tudo que é nosso e portanto empurrando pro lado de lá.

Qual a diferença entre consumir a camisa do Manchester e do Flamengo, se o garoto só conhece os dois pela televisão e pela web?

A justificativa, seja ela qual for, não é aceitável a partir do momento em que a receita de ingressos não é quase NADA no valor total de arrecadação de um clube no ano. Assim sendo, não  se fazendo fundamental, sequer muito relevante, porque não usar o estádio para apaixonar ao invés de ganhar migalhas com ele?

Eu cresci neles. Muitos de vocês também. Os próximos não.

8o reais é uma peça de teatro. Daquelas que vai na tv pedir espaço pra divulgar, porque é bom, mas não é popular.

O futebol é popular, e por isso é o que é.

Se administrado como um mero produto de prateleira, haverá concorrência. Se enxergarem não ser uma relação simples entre produto/consumidor, podem continuar a vida toda cometendo erros sem perder o cliente.

Paixão não se vende em embalagem.. Não há propaganda no mundo capaz de fidelizar mais do que um dia de domingo no estádio. Um pai, um filho, o lanche na porta, a festa, a dor da derrota.  Uma tarde assim e nunca mais se tira o clube daquele sujeito.

Tem preço isso ai? Se tiver, é bem mais que 80.

abs,

RicaPerrone