#Mudos

Uma vez alguém meio bêbado deu uma porrada num outro sujeito saindo de um estádio.  Eles proibiram a bebida. O agressor ficou solto.

Outro dia um sinalizador matou um jovem, mesmo que por acidente. Eles proibiram o sinalizador.

Aquelas bandeiras de plástico eram usadas as vezes pra jogar na torcida do anel inferior. Então, proibiram a bandeira.

Pessoas juntas, as vezes, brigam. Então separaram 100% das torcidas em alguns estádios.

Hoje um grupo de fácil identificação chamou um jogador negro de macaco. E ninguém foi preso, nem será. Eles vão tentar, talvez, proibir o torcedor de falar no estádio. Mas não vão fazer o menor esforço pra individualizar a culpa.

O estádio de futebol, meus caros, é como a internet. Todos viram anônimos, fazem o que bem entendem e quem responde é o clube, ou a arma, nunca o autor do disparo.

Sinceramente, eu nem acho que as pessoas que estavam gritando “macaco” sejam racistas. Eles abraçariam o Zé Roberto se ele fizesse um gol.  Mas entendo que ali, nervosos com o jogo, no meio da multidão, embalado pelo imbecil do lado, perderam a razão e fizeram.

Se der merda, vai dar pro Grêmio. Nunca pra eles.

Torcedor de futebol é tratado como uma criança que não responde pelos seus atos.  Só que já fez mais de 18 há algum tempo, e então ao invés de uma criança sem noção já estamos lidando com um imbecil adulto.

Faz 35 anos que eu vou em estádios. Já vi, ouvi e até participei de cada coisa que nem recomendo.  Eu nunca me senti um individuo lá dentro, e nunca vi ninguém ser punido.

A solução não está na cerveja, nem no pau da bandeira, menos ainda na placa “anti-racismo”.  Basta cobrar do cidadão que ele responda individualmente pelos seus atos.

Não vai dar em nada. Ou, no máximo, vão multar a loirinha do vídeo como forma de dizer que foram “duros” com o racismo.

Porque o problema não está nos caras imitarem um macaco. Nenhum deles faria isso na rua sozinho pro Aranha. Está na covardia, na euforia sem lei e na absoluta certeza que ali, mesmo que identificados, são só  “a torcida do…”.

abs,
RicaPerrone