Me maltrata, me arrebata!

No começo de 2010, campeão brasileiro, o Flamengo montou um “super-time” em busca do título da Libertadores, do Carioca e do Brasileirão. Queria tudo, e começou bem. Até que um dia, sem a menor explicação, o time parou de jogar. Virou alvo de críticas, de muitas dúvidas e conseguiu complicar a mais simples vaga nas oitavas da Libertadores.

Teve que torcer na rodada sem jogar, dependendo de 3 resultados. E os 3 aconteceram.

Em seguida, cai o treinador e o diretor de futebol. O time fica sem treinador a dias de encarar um dos melhores times do país, também focado na Libertadores, em paz, com a melhor campanha.

A presidenta vai lá e avisa. O time reage mal a mudança. A torcida está MORRENDO DE MEDO do jogo, essa era a verdade. Você conversava com os rubro-negros e eles diziam: “O que será agora? Isso era hora dessa crise estourar?”.

E lá vai ele, treinando, chamando técnico dos juniores, apostando na camisa e em mais nada. A torcida lota o Maracanã, empurra, sonha, acha que pode “jogar com eles”.

Joga, e muito bem.

Vê um dilúvio que impede qualquer tipo de jogo. Vê um jogador recém promovido ao time titular ser expulso.

Convenhamos, é impossível. Como um time perdido, sem treinador, sem padrão, em crise, com jogadores descontentes e com um a menos vai ganhar de um dos melhores times do país, em boa fase, calmo, com estrelas e a melhor campanha?

A torcida está como uma bomba relógio. Revoltada com o time, cobra e deixa claro que a coisa vai ficar preta se perder.

Pressão. Muita pressão.

E como pode um provável derrotado ser pressionado? Em que lugar do mundo o “não favorito” pode ser pressionado a vencer?

No Flamengo. Só.

No Maracanã, já sem tanta chuva, a bola volta a rolar. Com ela, um lance isolado dá ao Flamengo a chance de um pênalti. E Adriano, questionado, marca.

Não comemora, porque está chateado. Mas, foda-se. Tem 35 milhões de pessoas comemorando.

O time segura, a bola não entra, o drama termina. 1×0, na raça, na camisa, e só.

Uma semana para treinar. O Corinthians promete vingança. O Flamengo se faz mudo.

Adriano falta ao treino. É, de novo, o ponto de partida de uma crise.

Crise, Flamengo. Quanta sintonia entre os dois.

O time vem a São Paulo e ouve parte da imprensa paulista GARANTIR que o time do Flamengo é FRACO e que o Corinthians vencerá. E que não venceu no Maracanã por incompetencia dele, não por méritos do Flamengo.

Mas, sejamos razoáveis… Quem não conhece a imprensa de SP? Aqui existem 4 times. No Brasileirão, os mesmos 4. Na Libertadores, os 4. E se pedir pra olhar 1 km além da fronteira… não rola.

Pagam a língua o tempo todo, mas não aprendem.

Onde que Love, Adriano, Pet, Bruno, Leo, Juan, Maldonado, Kleberson e cia não tem time pra peitar o Corinthians? É muito desconhecimento de causa, me desculpem.

Mas, aguardem. Em alguns dias começa o bla bla bla dizendo que o Cruzeiro não tem time pra bater o SPFC. É quase lei essa empáfia, que pra mim é DESPREPARO.

Desculpa, não são todos. Mas são muitos.

E em meio a tudo isso, o Flamengo vai ao Pacaembu.

Mordido? Não. Apático. Assustado.

Joga um primeiro tempo ridículo, com a péssima escalção de Pacheco, que não consegue fazer nada há algum tempo.

Sofre 2 gols no primeiro tempo e a vaga vira de lado.

Agora, quem corre atrás é o Flamengo.

Flamengo que não está jogando NADA. Que está deixando a torcida desesperada, irritada, puta.

Rogério mexe. Coloca Kleberson, o jogador mais questionado do time no ano, e deixa Pet, o herói, no banco.

Ninguém entende. Mas, era simples: Vou trancar, e se o gol sair, eu ganho porque 2×1 é nosso.

Mas, e se não sai?

E como que numa transformação mágica de 15 minutos o Flamengo volta como Flamengo.

O Corinthians se assusta. Quem manda no jogo, dita o ritmo e coloca a bola no chão é o rubro-negro.

Gol de Vagner Love, com passe de Kleberson.

Rogério, quase burro, é quase gênio.

Flamengo, quase fora, está quase dentro.

Corações quase saudáveis estão sob risco. A nação treme, come unhas, chora, se desespera.

Do outro lado, um time de causas impossíveis, uma versão paulista do Mengão.

Se é Flamengo, tem que ser sofrido. Mas, se é Corinthians, também.

Então, o tempo passa.

As chances mais claras são, pasmem, do Flamengo. Mas ele perde todas.

E perde porque o Flamengo não pode vencer um jogo de forma simples e tranquila.

É preciso sofrer, é preciso ser no sufoco, é preciso ser Flamengo.

O gol não sai. O Corinthians não consegue criar.

E aos 46 minutos, Rômulo faz falta na entrada da área.

Chicão prepara. O Pacaembu se cala, a nação fecha os olhos e pensa: “Meu Deus, será?”

A outra nação repete: “Será?”

Nada mais natural. Afinal, se for Flamengo, tem que ser com um susto no fim.

Se for Corinthians, com um gol no fim.

Chicão cobra, Bruno voa e coloca pra fora quase dentro do gol.

A nação respira, a fiel se desespera.

Escanteio, mais sofrimento.

A zaga corta, o contra-ataque está armado. Nervoso, o time erra.

Ainda tem mais Corinthians. Mas a zaga corta.

O juiz faz cena, não termina.

48:30, é só apitar.

E eis que ele apita. E o Flamengo está classificado para as quartas de final, eliminando o maior projeto de 2010 rumo ao título da Libertadores, fora de casa, num jogo onde tudo caminhava para uma derrota histórica.

Aí você, desavisado, pergunta: “Mas como é possível?!?!”.

E o rubro-negro te responde, com 115 anos de história: “Eu já sabia”

E você duvida?

abs,
RicaPerrone