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Futebol. Só?

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Futebol. Só?

Tive a sorte de ter um irmão fora da família. Dele, surgiu um afilhado chamado Rafael, coisa mais bonitinha, e nem é mentira de tio babão. Olha a foto….

O pai, doente por automobilismo, nunca ligou muito pra futebol. É corintiano, mora no Rio ha 1 ano. Foi mais ao Engenhão do que a qualquer outro estádio, sequer viu o seu “Timão” jogar ao vivo um dia.

Enfim, sempre soube, com algum orgulho, diga-se, que sobraria pra mim a parte futebolistica do garoto. Esperamos esse tempo todo para aquilo que na cabeça do meu compadre seria só mais um programa pro moleque se divertir.  Mal sabe ele…

Chegou o dia, e lá fomos nós. Rafinha de Botafogo dos pés a cabeça, com a primeira bandeira do seu clube, presente do tio, claro!

O pai não era muito a favor de escolher um clube pra ele. Queria deixar escolher com o tempo, mas eu e a mãe meio que empurramos o argumento, ajudados por uma infelicidade. Nesse meio tempo o avô dele, seu Ary, faleceu. Ele era botafoguense e seu pai, bisavô do Rafa, chegou a jogar no clube, reserva do Heleno de Freitas.

Pra mim, não há escolha. O garoto tem  DNA alvi-negro, não pode se dar ao luxo de cometer o erro de não honrar seu passado. Sua história é botafoguense, sua chegada ao mundo se mistura com a partida do último pedacinho alvi-negro que havia na família. Rafael nasceu a tempo de corrigir um erro de percurso dos 3 filhos do seu Ary. Um torce pro Atlético PR, outro pro Sào Paulo e o pai do Rafa, como disse, pro Corinthians.

Hoje, no Engenhão, ele sorriu, apontou pro campo, pros balões, pras bandeiras e aplaudiu sem saber o que aplaudia. Gritou, reclamou, comeu pastel, quis ir embora antes do fim. Mas em algum momento não identificado por nós, adultos, ele registrou tudo aquilo.

Talvez ele guarde a imagem para um dia interpretá-la, quando mais velho. Talvez ele esqueça, talvez nem tenha guardado conscientemente. Mas em algum lugar além da fotografia o pequeno Rafa sabe que ali, hoje, quando Seedorf fez 1×0, vibrou pela primeira vez com um gol do SEU Botafogo.

Amanhã, rebaixado ou campeão, ele vai querer saber a história da sua “primeira vez”. E não, machistas, não se iludam: A primeira vez mais importante de um homem é num estádio, não com uma mulher.

O clube, o gol, a paixão e o futebol vão te acompanhar por todos os dias até que a morte os separe. As mulheres, não.

Paulo, meu compadre, nem imagina o elo que está criando ao atrelar um time entre ele e seu garoto. Aliás, tendo visto tantas vezes eu e o meu pai no estádio e em casa em dias de jogos, acho que imagina sim.

Futebol é mais que um esporte, uma paixão ou um domingo de diversão. Nele, através do amor mais puro que há, se cria laços com filosofias, história, cores, números e em muitos casos, como no meu, o seu maior elo com o pai.

Neste sábado ele conheceu mais que o Engenhão, uma torcida e um time de futebol.  Daqui, sei lá, 50 anos, quando olhar pra este clube e este campo terá em sua mente muito mais do que cadeiras, bola, grama, vaias e aplausos.

Ali, pra mais um, se torna “o lugar que meu pai me levava”. E isso não tem nenhum dinheiro no mundo capaz de substituir.

E o seu Ary, lá de cima, sorri. Eu sei que sorri.

Seja bem vindo, Rafa. Agora sim, você é um dos nossos.

abs,
RicaPerrone

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<b>Rica Perrone</b> é jornalista, tem 44 anos, foi pioneiro no Brasil no jornalismo independente online entre outros. Apresentador do Cara a Tapa e "cancelado". com frequência por não ter feito nada demais, especialmente não bater continência pra patota.