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Flu, 110 anos

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Flu, 110 anos

Se queres saber o futuro do Fluminense, olhai para o seu passado. A história tricolor traduz a predestinação para a glória“, disse Nelson Rodrigues.

Seria otimismo de torcedor, não fossem os fatos. E se os fatos estão contra ele, azar dos fatos. Eis que surge o primeiro grande clube de futebol do Rio de Janeiro. O primeiro, pois os outros ainda eram regatas.

Luta pela formação da Liga, vence as primeiras, muda de cores e consegue a combinação mais rara de todas: Verde, branco e grená.

Único por ignorar as massas, o torcedor do Flu tem orgulho de ser “elite”. Enquanto todos brigam para também fazer parte do “povão”, o Tricolor se orgulha de não dividir esta paixão.

Senti uma única vez o que é ser Fluminense. E não mais esquecerei.

Era Libertadores de 2008, e por um acaso do destino resolvi subir pra arquibancada do Maracanã aos 44 do segundo tempo para ver o meu São Paulo confirmar a vaga nas semifinais. Quando subi, olhei em volta e me assustei. Eles não estavam “torcendo” pelo gol milagroso, mas sim “esperando” por ele.

Nunca vi tanta certeza diante do improvável. E ali, cabisbaixo, fui confundido com um deles e fiz parte da comemoração da eliminação do meu time. Levei 10 segundos pra sentir raiva da situação, outros 10 pra ver o quanto fui sortudo de subir ali.

Afinal, de longe, não teria condições de notar o quanto eles queriam isso. Não poderia estar perto e sentir a alegria daquela multidão em conseguir aquela vitória épica.  Mas eu vi, entre eles, e quando desci pra cabine não tinha mais nenhuma sensação de tristeza.

A contagiante alegria de sua torcida simplesmente neutralizou a dor da derrota do meu time. Ali, entendi: “Era a vez deles”.

Nos últimos anos o Fluminense tem conseguido fazer espetáculos com sua torcida no Maracanã. Seja pra não cair, seja pra levar um caneco, lá está ela, surgindo do nada, entupindo o maior do mundo e fazendo festas memoráveis.

Nas situações de rotina, um `pó-de-arroz’ pode ficar em casa abanando-se com a Revista do Rádio. Mas quando o Fluminense precisa de número, acontece o suave milagre: os tricolores vivos, doentes e mortos aparecem. Os vivos saem de suas casas, os doentes de suas camas e os mortos de suas tumbas.”, disse Nelson.

Dizem que o clube sujou sua camisa ao “virar a mesa” para subir no Brasileirão. Mas não, não é por ai. Todos já fizeram uso de politicagem para conseguir vantagens no futebol. Um clube de 108 anos e tantas glórias não pode ser marcado por um presidente estúpido que eternizou o ato com uma champagne na tv.

Dizem que há anos o Fluminense não conquistava nada. E eu fico com Nelson, novamente: “O que são 100 anos pro Fluminense?”.

O que pode ser maior ou mais relevante do que ter seu clube fazendo parte de 50% do jogo mais famoso do planeta?

O estádio do futebol é o Maracanã. Seu cartão postal é o Fla-Flu, e isso basta a qualquer credencial de grandeza.

Não bastasse, ainda tem os feitos, as glórias, os ídolos e as lindas derrotas.

Sim, lindas derrotas. Como as diante da LDU na Libertadores e na Sulamericana. Belíssimas partidas perdidas onde seu clube sai aplaudido, forte, limpo.

O futebol é feito de paixão. E paixão vive de altos e baixos. Não há paixão só na alegria, nem apenas na dor.

Ir a série C foi o fundo do poço pra um grande clube como o Flu. Mas, quantos sairiam deste fundo do poço?

Ele saiu. E saiu pra levar a Copa do Brasil, para disputar Libertadores, ser finalista, chegar a decisões e voltar ao cenário do futebol montando grandes times e escrevendo, em 2008, as mais belas páginas do futebol brasileiro.

Hoje, com Fred, Deco e Thiago Neves, é um dos favoritos ao Brasileirão.

Não, não são muitos os clubes que conseguem ir ao fundo do poço e voltar sem cerimônias.

Nesta data especial, onde rivais tentarão diminuir o aniversariante, o torcedor do Flu pode olhar para trás e sentir orgulho.

Orgulho de Assis, Romerito, Branco, Thiago Silva, Edinho, Gérson, Renato, Rivelino, Washington e Castilho.

Orgulho do time campeão brasileiro de 84, do derrotado time de 2008,  do guerreiro time que evitou uma tragédia em 2009 e o campeão de 2010.

O Fluzão conhece, como poucos, todas as sensações que o futebol é capaz de nos dar. Do vexame a glória, da arrogância a humilhação. Mas conhece, sobreviveu a todas.

Grandes são os outros, o Fluminense é enorme.”, disse Nelson Rodrigues, eufórico, apaixonado, cego, mas… verdadeiro.

Parabéns, Fluzão! 110 anos sendo protagonista do maior futebol do mundo.

Aceitem esta pequena homenagem de um jornalista apaixonado por futebol, mas que torce pelo “tricolor paulista”. Porque eu sei, em respeito a história, que tricolor só tem um. O resto tem três cores.

abs,
RicaPerrone

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<b>Rica Perrone</b> é jornalista, tem 44 anos, foi pioneiro no Brasil no jornalismo independente online entre outros. Apresentador do Cara a Tapa e "cancelado". com frequência por não ter feito nada demais, especialmente não bater continência pra patota.