Eu falo palavrão

As  vezes tenho que lidar com situações incomuns em virtude da linha incomum que tenho como jornalista. Natural, é uma escolha.  A que mais se repete é o questionamento sobre o meu linguajar.

Diversas vezes já me deparei com pessoas que, numa reunião de negócios, sugerem o fim dos palavrões em blog, twitter, facebook.  Mais do que isso, pessoas e colegas jornalistas que acham um absurdo um profissional usar certos termos.

Parecer sério é parte fundamental da credibilidade, eu entendo. O que não entendo é porque mudar a linguagem universal do futebol para se passar por diferenciado.

É óbvio que numa tv, onde milhões assistem e nem sempre tendo escolha, onde pais assistem ao lado dos filhos e famílias reunidas você não pode gritar um “caralho!”.  É agressivo, inapropriado.

Mas aqui, onde só vem quem procura, só chega por indicação, não consigo me convencer que vocês, torcedores, precisem dessa firula.

Há uma diferença brutal entre Elkeson e Éder Luis. O primeiro não joga nada. O segundo, “porra nenhuma”.

Não, não é a mesma coisa.

Você fala assim, é essa a definição mais real, apropriada e íntima para o tema. Quem sou eu para ousar mudar o veredicto para um “não joga o bastante”?

No Brasileirão ficou claro, só não vê quem não quer.  “Muita bola” jogou o Wellington Nem. Neymar jogou “pra caralho”.

Você não pode ir a um estádio de futebol e se incomodar com um “puta que pariu”. Se for o caso, não vá. O errado é você, não o autor do grito.

Futebol é o universo paralelo que dá direito ao sujeito ser o que não pode ser na hipocrisia do dia a dia. No campo, somos livres. No bar, donos do time, e na web, donos da verdade.

Para todos os casos, não cabem termos elegantes e cheios de firula para driblar o óbvio.

“Para caralho”  é mais do que “muito”.  E no futebol, “muito” é pouco.

Há exagero, oba-oba, euforia, paixão. Quem ama, fica bobo. Quem está apaixonado fica bobo “pra caralho”.

E futebol apaixona.

Somos todos idiotas “do caralho” esperando um chute mudar nossos conceitos, a semana, a vida, o casamento… tudo!

Porque futebol é foda. Não divertido, nem interessante, menos ainda um esporte.

Ele é foda, e só.

Não há outra definição.  Nem mesmo o maior intelectual do planeta, vestido de principe, com a viadagem inglesa seria capaz de ver o gol do Pet em 2001 e dizer: “Oh, que belo gol”. Ou, se vascaíno, “Oh, que pena”.

A reação obrigatória de todo sujeito normal e não domesticado pela avó é um sonoro “Puta que pariu”, pro bem ou pro mal.

Se é falta, “filho da puta” do que bateu. Se não marcou, “ladrão do caralho” de quem não apitou.

Te incomoda? Leia a biblia, lá não tem.

Tem palavras dificeis que você nem sabe o que quer dizer, mas palavrão não tem.

Quando garoto palavrão era “pecado”. Hoje é unidade de medida.

Maradona jogou muito, Pelé jogou pra caralho.

Concorda? Do cacete.

Discorda? Foda-se.

abs,
RicaPerrone