É hora de ser mau

Um dos assuntos que mais me intriga no futebol é a relação do brasileiro com o Neymar.   Se você consultar qualquer mega agência mundial saberá que estamos falando do maior influenciador do mundo. E se você abrir uma rede social no Brasil vai achar que todo mundo odeia ele.

Mas se ele sair na rua, saberá que não. E toda vez que ele troca o penteado, usa uma roupa estranha ou populariza um pagode, tudo vai pra onde o dedo dele aponta.

Mas esse fenômeno não é dele. É brasileiro. Na rede social você jura que Anitta, Luciano Huck e Neymar são odiados, quando na real são os 3 nomes mais adorados do país. Ali tudo se deturpa e quem está lá leva aquilo tão a sério que acha ser um índice real.

Nos últimos meses eu tenho lido pouco sobre Neymar e ouvido bastante pessoalmente. A percepção que você passa a ter é completamente outra. Não é a de que “odeiam”, nem a de que “adoram”.  Mas de que Neymar não assumiu uma condição.

Explico.

O Kaká é um garoto perfeito, fofo, educado e profissional ao extremo. Então um perfil de pessoas ama, outro não gosta, outro é indiferente.  O Romário é um bad boy sai na mão com torcedor, manda treinador pra casa do caralho, peita imprensa, faz o que quer e não cumpre o protocolo.

Uma parcela das pessoas o adora, outros não mas respeitam porque ele se bancou ser isso.

O Neymar não está em nenhum dos dois cenários. Ele é um “fofo” dando entrevista, soa arrogante de vez em quando, soa indiferente em outras, em campo é abusado, fora dele nem tanto. Perde a linha mas vende a imagem de um garoto sorridente e calmo.

Ele não tem um perfil definido pro torcedor brasileiro.  A gente aceita o bad boy, o santo, o crente, o mudo, todo tipo de jogador. Mas o Neymar transita entre todos eles e confunde o fã.  Nunca se bancou como “garoto mau”. Mas não dá pra ser a Sandy de chuteiras mais.

Como Sandy, críticas. Como mau, a não identificação por não se vender daquela forma. Enfim, mesmo midiático e popular, a pergunta é “quem é o Neymar?”.

E não vai aqui qualquer juizo de valor. Eu honestamente, contra a maioria, prefiro o bad boy. Embora tenha Zico e Raí na minha lista de ídolos, veja você. Só que é exatamente por isso. Porque eu sabia separar os perfis e encontrar uma forma de admirar cada um deles.

O Neymar não tem um perfil claro. O “garoto” que fala com a camera no tom que ele fala não pode dar um soco no torcedor. O que apanha, levanta e dá chapéu, pode. O que leva mulheres pra um evento pode. O de Jesus não.

Neymar é o tipo do cara que poderia ir a um show do Sorriso Maroto com a camisa do Metalica. Não é previsível, nem em campo, nem fora. Não tem uma personalidade identificável pra fora. E provavelmente seja só pra fora. Óbvio que ele pros amigos e em casa sabe quem é.

O ponto é que nós não sabemos. E isso gera esse céu e inferno toda hora na relação com o torcedor.

Talvez seja óbvio que não se trata de uma Sandy. Nem do Fábio Assunção.  A marra não é um problema, a dúvida é.

Tá na hora de ser mau. Com a taça nas mãos dia 7 de julho é uma ótima hora pra chorar, dedicar a jesus e a todo povo brasileiro, ou meter a marra, negar entrevista e sair dizendo “gostou? Eu que fiz”.

E foda-se! Porque se a bola entrar tu pode chutar um mendigo que vão culpa-lo por estar na calçada. Se não entrar e você ajuda-lo, dirão que é marketing barato. Tudo se resume ao gol. E no caso isso ninguém tem a menor dúvida do quanto você sabe fazer.

RicaPerrone