Durma em paz, Palmeirense

 Sempre que quase rebaixado o torcedor sente ódio. Pelo goleiro, pela diretoria, o atacante, quem quer que seja o vilão eleito da vez.

Ao sair do estádio quer quebrar, brigar, xingar, ameaçar, se fazer notar. Jura ser capaz de “ir lá e resolver tudo”, mas não é, e no máximo picha um muro para se dizer revoltado.

Em casa, faz discurso. Na internet, briga com todas as pessoas que aparecerem na sua tela para ousar matar de véspera o ainda vivo clube do coração.

Mas o dia chega, e quando chega o ódio dá espaço ao amor.

Inexplicavelmente no momento de maior revolta daquela relação ele joga as armas no chão e, sem mais forças para brigar, volta a abraça-lo.

Se declara, revive os bons momentos, faz promessas, juras e reconhece a queda de forma humilhante, sem forças para discutir, se revoltar ou pensar no amanhã.

Ao rebaixado não há amanha. Só ontem.

Ontem ele poderia não ter perdido aquele jogo, nem ter sofrido aquele gol ou não ter contratado aquele jogador. O passado alivia, dá ao sujeito poder de reavaliar e interpretar todos os rumos errados que foram tomados até então.

O futuro dá medo, pois quando vivemos uma dificuldade ninguém consegue nos convencer de que “não vai piorar”. Pessimismo gera mais pessimismo e o que está ruim, naquele momento, só pode piorar.

Apaixonados como poucas vezes vão dormir os palmeirenses neste domingo. Sonhando com dias melhores, não apenas possíveis como também bastante prováveis.

Mas hoje não é importante nem pisar no clube nem explicar sua grandeza para encontrar ressalvas diante das manchetes catastróficas.

Deixe estar. Deixem-nos dormir com dor, lágrimas e pesadelos.

É parte tão deliciosa do futebol a derrota quanto a vitória, pois uma alimenta a outra. Sem sofrer as conquistas se tornam menos especiais. Sem altos e baixos o futebol não faz sentido algum.

Não é legal vencer sempre, por mais que você queira acreditar no contrário.

Não há virada sem sofrer o gol. Não se reergue sem cair, não se levanta estando em pé.

Sofra, palmeirense. Sofra muito.

Alimente sua paixão de vingança, raiva, amor, ódio e dor. Só assim, sofrendo, saberá o quanto você ama este clube e o quanto ele significa pra você.

Se tivesse escapado, acredite, você não teria tanta certeza do quanto é palmeirense nesta noite de domingo.

Agora que você já sabe, que se lembrou do quanto, vá dormir em paz.

abs,
RicaPerrone