Dunga x Imprensa

Eu sou jornalista, mas não sigo o manual. Me dou bem com 95% dos meus colegas, mas discordo da postura de muitos deles em diversos assuntos, como eles de mim, naturalmente. Porém, respeito e não dou nomes. Quando falo, generalizo como “imprensa”, tentando deixar claro que são “alguns”, mas sem nomear.

Aliás, acho que jornalista que cobre jornalista é desocupado.

Porém, acho saudável discutir o quanto a imprensa faz bem ou mal seu papel em alguns aspectos. Generalizar é sempre ruim, mas as vezes é quase a única forma que há de se fazer uma avaliação a grosso modo.

No caso Dunga, ao contrário do que penso no caso Muricy, eu fico mais pro lado do técnico.

E porque?

Veja bem. Uma coisa é você ser bem tratado e elogiadíssimo pela mídia, peitar os pequenos e ir puxar saco dos grandões de emissoras, que é o que faz o Muricy. Ele briga com todos os reporteres e não dá uma nos famosos. Aí é fácil, tanto quanto covarde.

Por qual motivo Muricy, eleito o técnico do ano 4 vezes, brigaria com a imprensa? Aí é falta de educação sem justificativa.

No caso Dunga, acho diferente. E explico.

Eu não concordo que alguém seja “mal criado” com outra pessoa a toa. Mas concordo, como nota-se no blog, que se um leitor vem e me manda tomar naquele lugar, eu responda no nível dele. Afinal, não é ele quem me paga salário, portanto, respeite ou terá a mesma dose de desrespeito na resposta.

Dunga foi um jogador de alto nível. Se não pela técnica, pelo que significou. Ou alguém acha que ser convocado em 3 Copas do mundo como titular, ser capitão do time em 2 delas e ainda levantar um caneco é qualquer coisa?

Ele é parte da história do nosso futebol, gostem ou não.

Porém, Dunga deve guardar com ele o que fizeram em 90, quando quase toda a imprensa jogou nas costas do cara um  time sem alma e que voltou pra casa jogando mal. Não é justo, nunca foi.

Dunga fatalmente dormiu com aquele peso por 4 anos, até que o “grosso” foi lá e jogou o fino da bola em 94, levantando o caneco como capitão do tetra.

Alguns se redimiram, outros não.

Passados alguns anos, ele é chamado pra ser treinador da seleção.

E aí, me desculpem os mais acelerados, mas acho que houve uma inversão de valores.

Não gostaram. Ok. E despejaram a pancada em quem? No Dunga, e não em quem o escolheu.

E não foram pancadas amigaveis, educadas. Foram fortes, como o uso escroto do termo “pseudo-treinador” pra todo lado durante 4 anos.

Ganhou tudo que disputou, e ninguém deu o braço a torcer. Continuou apanhando de todo lado, só que sem o mesmo “pézinho atrás” que tem a maioria ao bater no Muricy, no Parreira ou num Felipão.

Claro, é o Dunga, calejado e alvo fácil.

Ele meteu a mala na Globo quando tirou as exclusivas dos caras. Ali, mexeu com muita gente grande. Mas, foi o único que teve peito. Tirou Ronaldinho e Kaká do time depois dos dois terem pedido folga na Copa América. E fez bem, porque eles não tinham crédito pra isso.

Dunga fez muito do que sempre pediram após 2006. Deu a seleção um time com vergonha na cara, trouxe resultados, afastou os cativos e o time deu certo. Foi coerente, manteve seu grupo e fiel aos seus jogadores.

Tirou os privilegios da Globo na seleção, e daí talvez se justifique boa dose da perseguição implacável com o sujeito.

Você perdoa, mas não esquece.

É impossível pedir ao Dunga que apague da sua vida tudo que ele aguentou em 90 por causa de um time inteiro incompetente e que errou numa Copa. Foram injustos ao extremo, rotularam uma fase negra da seleção como “era Dunga”.

As criticas que recebe não são educadas, nunca foram. Claro, não todos, mas não dá também pra pedir pro cara selecionar meia duzia de “amigos” entre 200 jornalistas que todo dia analisam o trabalho dele.

Ele é grosseirão, sem dúvida. Não tem jeito pra lidar com a mídia, é fato. Mas isso não dá o direito de algumas pessoas menosprezarem e tratarem um cara com tanta história no nosso futebol como se fosse o zezinho da esquina.

Acho que o Dunga sente falta de reconhecimento, ou do direito de não ter que provar algo todo santo dia, mesmo quando vence.

Quando ganha, o rival errou. Quando perde, escalou mal. É muito injusto, e em momento algum vimos uma mudança de avaliação sobre o trabalho condenado de véspera do treinador.

Gosto do Dunga, gosto de muitos dos meus colegas que já levaram patadas dele.

Mas nessa, pelo histórico, não direi que dou razão ao Dunga. Mas diria que o entendo.

Antes de um treinador vem uma pessoa, um pai, um cidadão. Você não pode meter nas costas de um homem a culpa por uma eliminação de Copa, até porque, quando ganhou, não foi na dele que meteram a coroa.

Ao contrário de outros, como Muricy, que batem pelo mero prazer de ser estúpido, Dunga tem seus motivos para olhar aquela gente toda na coletiva e enxergar inimigos.

É só ver a analise da Espanha, da Argentina e do Brasil. Tudo na seleção é “pior”, e na verdade quem ganha sempre somos nós. Há má vontade SIM com ele. E aí, assim como suas patadas, foge do profissional.

Pau que bate em Chico, bate em Francisco.

Se depois de 4 anos ganhando tudo que disputou e jogando bem seus principais jogos o Brasil perder a Copa por um tropeço qualquer, ninguém lembrará do bom trabalho. Ele sabe que será novamente humilhado, como já foi em 1990.

Isso tem um peso que eu, você e nenhum jornalista sonha qual é.

Acho que a relação melhoraria se alguns dos jornalistas fossem mais educados ao criticar e se o professor levasse em consideração que, na verdade, quando dizem que é “o time da CBF” e enchem de porrada, são apenas apaixonados torcedores de microfone na mão morrendo de vontade de ver o Brasil campeão.

Os dois lados estão errados, sem dúvida.

Mas, como diríamos na escola… “nós que começamos”.

abs,
RicaPerrone