Doa a quem doer

Torcedor nordestino, acho razoável sugerir que você comece a ser tratado com verdade e não com piedade.  Acho insuportável a mania de alguns em achar que o restante do Brasil os odeia ou os menospreza. Mas entendo que haja algum motivo pra isso, mesmo sem conseguir ver tão bem quanto vocês.

O futebol do norte/nordeste é alvo de grande discussão todo santo dia. Se não por algum grupo de torcedores exigindo mídia, se dizendo menosprezado, então por outro grupo fazendo campanha contra os que torcem pra times “do eixo”.

Seja lá qual for seu caso, acho mais importante tratar o assunto com fatos e números, não com paixão.

O futebol do nordeste não tem, hoje, a menor possibilidade de estar entre os grandes do país. Quando cito os grandes me refiro aos 12 maiores, com SP, RJ, MG e RS.  O que não torna Bahia, Vitória, Ceará, Sport, Santa Cruz e Náutico pequenos, note. Há um meio-termo entre o gigante e o nanico.

Mas aí você vai tentar discutir baseado em títulos, índice de público no estádio e outras centenas de bobagens que não fazem o menor sentido quando o debate se torna prático. O estudo da Pluri Consultoria desta semana acaba com boa parte da polêmica.

Neste post  levantamos os dados e o valor de mercado (elenco) dos times do “eixo”, como adoram dizer. Chegamos a números interessantes, como por exemplo a média de 170 milhões de reais ( já considerando a chegada de Vagner Love) por elenco dos 12 grandes. Sendo que esta média não considera a importância do jogador mas sim seu valor. Ou seja, Deco, mais velho, não faz grande peso no valor de elenco do Flu.

Confira o estudo da Pluri para as próximas considerações:

Vamos focar em 8 clubes, não nos 25.   A soma dos elencos dá 255 milhões, aproximadamente.  A conclusão é bem simples:

Tirando os medalhões que valem pelo espetáculo, grife e marketing mas não tem valor de revenda tão consideravel, casos de Deco, Ronaldinho, Abreu, Felipe, Juninho, Rogério Ceni, entre outros tantos, a soma dos 8 maiores clubes do nordeste é menor que o valor do time do Santos e pouco maior do que a média de cada time grande do país.

O Palmeiras, pior avaliado entre os 12 neste momento, tem o dobro do melhor avaliado do norte/nordeste.

Isso deve dizer alguma coisa, mesmo que o mais fanático torcedor não queira entender. E aí você me perguntará porque isso, se tem a ver com preconceito, etc, etc.

A questão não diz respeito a clubes, forma de administrar, nada disso. Como ressaltei acima, este valor é bem maior para os grandes se considerarmos quanto vale o que tem em campo, não apenas o seu valor de revenda, já que a idade anula este quesito.

O que está na hora de ser dito é que a chance disso mudar a médio prazo não é boa.  E não é fácil dizer isso sabendo que você atingirá milhões de torcedores que juram torcer por um clube que a qualquer momento vai a Tóquio, mas não vai.

Podemos exemplificar isso facilmente com o valor do PIB de cada região.

A região nordeste tem um PIB per capita de R$ 8.167,00, com 9 estados. A região Sul, com 3, tem 18.257,79.

A soma das regiões norte e nordeste, que tem 16 estados, não é maior que a região sul.  E isso é um número levantado pelo IBGE, não pelo Blog ou pela cabeça do blogueiro, ok?

Para base de comparação, o Sudeste tem R$ 21.182,68.

Você, teimoso, pode ainda insistir em achar que isso não tem importância. Mas tem.

Como disse outro dia, o futebol não é mais um esporte amador sustentado por 1 milhão de reais ao ano, como na era Bobô, entre outros. Hoje, menos amador, com cerca de 200 milhões por ano de receita estimada para um competitivo grande clube, acabou a possibilidade de igualar tudo no talento, na técnica e na sorte de ter um craque.

A realidade hoje é de um segundo escalão sendo muito bacana e  colocando os 12 no mesmo saco. Se houver uma separação mais criteriosa, capaz de alguns dos grandes estarem num “segundo escalão” e ainda jogarem os citados aqui para um terceiro. Mas sejamos mais razoáveis.

A questão, meus caros, é que todos os números apontam para uma conclusão lógica, não bairrista ou preconceituosa, como muitos acusam.

O futebol se tornou algo altamente caro. E tudo que é muito caro se centraliza nas capitais onde o poder aquisitivo é maior. Não a toa, infelizmente, na medida em que os valores subiram o futebol do norte/nordeste não acompanhou.

E em pouco tempo, infelizmente, não acompanhará.

Se ao invés de ler isso preferir o tratamento de “pena” que muitos dão, é direito seu.

Mas é fato que, hoje, se quiser disputar algo de grande porte, se quiser ser protagonista, terá que estar do lado daquela faixa nojenta e preconceituosa que diz: “vergonha do nordeste” pra torcedores de times BRASILEIROS maiores que os locais.

abs,
RicaPerrone