Depois…

110 anos de história, uma camisa das mais pesadas e hoje não tão confiável. O glorioso que um dia ganhou tudo que tinha pela frente hoje não paga salários, discute falência, ouve deboche e já aceita tal condição sem nem se revoltar.

Cansados, os botafoguenses pouco discutem. Não se entregam, tentam impor limites a sua paixão por medo do final se repetir.

Eu não vou falar dos 110 anos do Botafogo porque todos conhecem, outros tantos já escreveram sobre e honestamente acho que tudo que o botafoguense quer é parar de ouvir falar no passado.

Então vamos ao futuro.

Aquele mesmo futuro dado como inviável no começo da década de 90, depois nos anos 2000, agora novamente em 2014.  O Botafogo nunca acabou, se reergueu em todas as vezes e não há nenhuma possibilidade disso não se repetir.

Não haverá fechamento de clube algum. Se necessário, no pior dos casos, o Botafogo vai pra série D e volta em 4 anos como outros grandes já fizeram por problemas financeiros de gestões infelizes ao longo de mais de um século.

O quanto deve o Botafogo todos nós ouvimos todo santo dia. Mas quanto o futebol deve ao Botafogo acho que nem sempre.

“E se acabar?”.  Eu não consigo chegar ao pragmatismo exigido para me fazer esta pergunta. A falência? Ora, que venha se for necessária! Dali pode sair o primeiro clube-empresa do país, porque não?

Ou da série D surgir um grande sem dívidas em 4 anos?

E o que são 4 anos pro interminável Botafogo?

Não quero passar uma mensagem de otimismo sem argumentos sólidos pra isso. Apenas quero lembrar que hoje, ao completar 110 anos, talvez o Botafogo viva seu décimo diagnostico a morte.  E ele não morreu.

Não há ex-grande.  O último citado desta forma ganhou a Libertadores ano passado.

Como o Botafogo há alguns meses participou dela. E em 2013, até o final, disputou título nacional e teve em seu elenco o mais famoso jogador que atuava no país.

Profetas do apocalipse, não percam seu tempo com o Botafogo.  Matem nossa economia, um partido politico, uma empresa qualquer. Mas não tentem traçar planos e determinar o futuro do que é motivo pelo imponderável e pela paixão.

O elo entre pais e filhos, a razão de viver de tanta gente. Isso não quebra, pois não há falência no mundo capaz de impor um fim.

O que foi até aqui, sabemos. Deve se orgulhar o botafoguense por 110 anos de glórias, sucessos, fracassos mas constante protagonismo nacional, pro bem ou pro mal.

Mas e depois?

Depois, vai acontecer tudo de novo. Da glória ao desespero, do sofrimento ao quase fim e… sempre. Pra sempre.

Talvez seu papel seja quase acabar e nunca acabar, explicando um fenômeno chamado futebol de forma pouco matemática.  Talvez seja o último romântico, talvez o primeiro dos falidos, ou mais um entre tantos clubes brasileiros perdidos em meio a 100 anos de amadorismo.

Roubo um trecho do samba da Mangueira de 1988 e adiciono uma palavrinha apenas.

“Moço não se esqueça que o alvi-negro também construiu, as riquezas do nosso Brasil”

abs,
RicaPerrone