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De botafoguense pra botafoguense

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Rodrigo Souza tem 25 anos e me pediu para “falar” com a torcida do Fogão, da qual ele faz parte. Gostei da idéia, abri o espaço e aqui está ele, levando um papo “botafoguense”  com vocês.

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Meu nome é Rodrigo, tenho 25 anos e entre outras coisas, sou um botafoguense apaixonado, assim como outros milhões pelo mundo afora. E depois do último post do Rica sobre a torcida do Botafogo (em que concordei em tudo, diga-se de passagem), fiquei de enviar pra ele o pensamento que acredito (tenho que acreditar) ser da maioria, na tentativa dessa ideia se difundir.

Frequento estádios de futebol desde que me entendo por gente, já vi brigas de organizadas na minha frente, corre-corre, pancadaria, tiroteio, já peguei estrada pra ver jogo, entre outras coisas, mas nunca nada me desanimou tanto como o que estou sentindo agora. Muitos vão falar que isso se deve à falta de títulos de expressão, ao time que chega, mas não ganha, ou a diretoria. Mas eu digo com toda certeza que não. Meu desânimo e decepção são por causa da massa alvinegra.

Cresci lendo sobre a torcida que passou 21 anos sem títulos sem abandonar o clube nunca, não se importando com as zoações dos rivais. O jejum acabou, e com ele veio um título internacional com um time medíocre (mas com uma torcida apaixonada apoiando), um título brasileiro com o Túlio Maravilha (que fez uma nova geração de torcedores, e eu me incluo aí), e outros títulos estaduais. Somos a última torcida a colocar mais de 100 mil pessoas no Maraca (final contra o Juventude)

Mas parece que toda aquela paixão parou aí (pelo menos pra muitos torcedores). Sou sócio torcedor e vou a todos os jogos, e o que vejo hoje em nada me lembra esse passado sensacional. O que vejo hoje me deixa enojado, chego a ter vergonha de falar pra amigos que estava lá participando daquilo tudo.

Me pergunto o que leva um cara a gastar dinheiro pra ir ver um jogo contra um Bonsucesso da vida, e vaiar um jogador desde antes dele entrar em campo. Não está satisfeito com alguma coisa, fica em casa, ou vá a General Severiano num treino pra protestar contra quem quer que seja, mas pelo amor de Deus, não vá vaiar o time no primeiro passe errado. Qualquer imbecil sabe que isso não serve pra nada, a não ser deixar o time mais nervoso. Lugar pra mostrar insatisfação é no treino, na chegada do time em aeroporto, etc. Aí sim a diretoria dá ouvidos.

Vou enumerar e já responder as desculpas prontas desses babacas, tanto para vaiar desde o início, quanto para nem sequer comparecer:
Alguns falam: ‘Ahh mas é muita decepção, muitos erros de arbitragem, uma hora cansa’. Esses que falam isso acham que só o Botafogo passou por problemas na história. Todos só falam das nossas decepções, mas se esquecem que todos os times tem seus problemas. Porra, o Flamengo perdeu uma Copa do Brasil com o Maraca abarrotado pro Santo André, foi roubado numa Libertadores contra o Defensor em 2007, em 2008 foram humilhados pelo América, do México em pleno Maraca, mas em 2009 eles carregaram o time, que saiu do fundo do poço e ganhou o Brasileiro. O Corinthians nunca ganhou uma Libertadores e todo ano tem quebra-pau por isso, mas dentro do estádio, eles não param de apoiar um minuto. O Fluminense também perdeu uma final de Copa do Brasil pro Paulista no Rio, passou por aquele sufoco em 2009, que a torcida deu um apoio absurdo ao time, e infelizmente sou obrigado a dizer que se fosse a gente ali, teríamos abandonado o time. E aí alguns vão falar que nesse ano nós também enchemos estádio e ajudamos a evitar o rebaixamento. Mentira!! Pra quem não se lembra, lotamos só os dois últimos jogos, aposto que todo mundo se esqueceu do jogo crucial contra o Náutico no Engenhão, que tinha por volta de 5 mil heróis. Em 2010, o Fluminense levou de 3 a 0 do Santos em pelo Engenhão (3 do Zé Love!!!), e ao invés de xingar todo mundo, a torcida incentivou no final do jogo, e amigos tricolores me garantiram que se sentiram campeões ali.

Perdemos três finais seguidas pro Flamengo, e por incrível que pareça, a única que esgotamos a nossa parte da arquibancada, nós ganhamos. Será coincidência? Aí vão falar que jogo contra eles é muito perigoso, etc. Desculpa! Todos os jogos são perigosos, inclusive os só do Botafogo, porque tem duas organizadas nossas que quebram o pau todo jogo (ou você não lembra da pancadaria na porta de São Januário na estreia do Renato contra o Corinthians ano passado?).

Procurem então quantos jogos perdemos com o Engenhão lotado, com a torcida apoiando sempre. Posso estar enganado, mas acho que nenhum. Será coincidência?

Derrotas acontecem com todos os times, a diferença é que a gente fica remoendo essa derrota durante anos, jogando a culpa delas em quem não tem nada a ver, e no fundo, prejudicando só a nós mesmos.

Muitos reclamam que na hora H, a gente não ganha. Talvez porque na hora da decisão, os outros times têm uma massa apoiando e a gente uma massa xingando. Quem não se lembra da semifinal da Copa do Brasil contra o Corinthians, com 17 (???) mil pessoas no Engenhão? Quem não se lembra do jogo contra o Figueirense ano passado, em que colocamos pouco mais de 20 mil pessoas (???) brigando pelo título do Brasileiro, e pra piorar, levamos um gol no início. Aí fica a escolha: vaiar ou incentivar o time. A escolha foi xingar desde os 10 minutos de jogo. O resultado foi o time apavorado em campo. Foi essa mesma escolha que a nossa torcida fez no final do Brasileirão ano passado. Quando o time mais precisava de incentivo, nós deixamos na mão, sumimos do estádio, e quando aparecíamos era pra vaiar.

Outros falam: ‘mas as vaias servem pra mostrar pra diretoria que a torcida não está gostando, não viu que tiramos o Alessandro de lá’. Desculpa o palavrão, mas tiraram porra nenhuma. Ele já estava com a renovação acertada, só saiu porque o novo técnico não quis. E o pior, o cara estava há quase quatro anos sendo vaiado, e esses imbecis acham que foram eles que o tiraram do Botafogo. Saiu o Lúcio Flávio, o alvo virou o Fahel, saiu o Fahel, virou o Alessandro, saiu o Alessandro, e pelo jeito virou o Felipe Menezes (que é reserva, mas acho que nem isso esses imbecis sabem). Quando sair o Felipe Menezes vai vir outro, com certeza. E o pior é que eles vaiam o Felipe Menezes, porque querem o Herrera, esse mesmo que no final do ano passado era vaiado por essa mesma torcida que não o aguentava mais ver como titular.

Quero deixar claro que odeio Lúcio Flávio, Leandro Guerreiro, Fahel, Alessandro, etc., mas se o cara já é ruim, a vaia só ajuda a destruí-lo de vez. Qualquer ser humano sabe que sem confiança, você não rende, em qualquer profissão. O caso mais recente é o Márcio Azevedo. O cara está muito longe de ser um craqu, mas se xingá-lo desde o início, vai acontecer o que aconteceu ano passado. Se aplaudir, talvez aconteça o que está acontecendo esse ano, e o futebol dele, apareça. Lamentavelmente, cheguei ao ponto de ver um fórum de discussão onde a torcida combinava de vaiar o Lúcio Flávio desde o início do jogo. E pasmem, esse jogo foi o último do Brasileiro de 2009, contra o Palmeiras, o que definiria se o Botafogo iria ou não para a Série B.

Exemplos como esse não vão faltar. É mais fácil vaiar os jogadores, xingar os juízes, porque assim você já tem uma desculpa pronta pra derrota. Difícil é jogar junto do time, levar ele ao título, como já fizemos antes. É duro de falar isso, mas essa minha geração de torcedores está envergonhando a geração do meu pai e as anteriores, a que nos fizeram virar botafoguenses. Está sendo cada vez mais difícil ir ao Engenhão, mas não sinto que não posso deixar de ir por babacas como esses, porque aí fudeu, o Botafogo estará perdido mesmo.

Como o Rica já falou, vamos pro Engenhão acreditando na vitória, no título, esqueçam essa raivinha idiota por A ou B, protesto se faz na sede ou no final do jogo, nunca durante!!! Vamos abraçar o time, carregar no colo se for preciso, enfim vamos jogar junto como sempre fizemos!

Rodrigo Souza