Criado pela vó

Quantos Patos vamos perder até aprendermos a cria-los?

Alexandre, o Pato, não merece ser massacrado por um pênalti. Talvez pela desproporcional relação entre o que se esperava dele e o que de fato ele fez até aqui.

Pato tem 24 anos, e sim, é craque. Sabe muito. Pode ir onde a maioria não pode. Mas para andar pra frente é preciso pés no chão.

Que diabos você e eu pensamos que aconteceria com um garoto que aos 16 anos estava no Inter profissional, disputou mundial aos 17 e com 10 jogos na vida estava vendido por milhões pra um time europeu que ele ainda nem podia defender?

O que você e eu queremos desse garoto? Que ele ache que tem que trabalhar igual os outros? Que precisa achar a vida dura e portanto batalhar pelos seus milhões anuais fazendo um gol aqui e outro ali?

Pato, como muitos outros, vive do que nós esperamos dele. Não apenas do que joga ou jogou um dia.

Criamos mais um garoto de condominio, que logo no primeiro chute certo ganhou bola nova, camisa, chuteira, meião e uma festinha em casa.

É rápido demais. O caminho entre a base, o estrelato e a seleção brasileira foi encurtado a quase nada. Basta um ou dois jogos, tá feito o trabalho que deveria levar uma vida pra ser feito.

Ganha-se um salário absurdo nos próximos 5 anos, em 6 meses pede pra ser emprestado de volta, encosta num clube qualquer e viver vendendo a idéia de que “pode vir a ser, um dia, um fenomeno”.

E vai dizer pra um garoto de 20 anos que ganha 1 milhão por mes que ele não pode? Aliás, vou além. Diga pra um de 30. Ele não vai te ouvir, e com alguma razão. Afinal, ele fez em meses o que você não fez numa vida.

Não posso julgar a cabeça de garotos de 16 anos que ganham o mundo aos seus pés em 3 semanas. Eu não faço idéia do que faria se trocasse meu master System na época por tudo isso.

Precisamos desacelerar o processo. Cuidado com o que falamos, e a seleção ter muito mais critério pra quem dá sua camisa.

Não que Pato não possa estar lá. Pode, joga muito! Mas precisa jogar pra isso. O reserva do Romarinho não pode ir pra seleção mais forte do mundo. E nem ganhar 10 vezes mais que o Romarinho.

Quantos patos vamos criar com leite de pera até notarmos que estamos criando celebridades e não jogadores de futebol?

Pato foi criado pela vó.

Não me venha agora reclamar do neto.

abs,
RicaPerrone