Santos, o “atrevido”

Atrevido, segundo o dicionário, é aquele que atreve, ousado, audaz.

No futebol atrevido é o garoto marrento que sem ter sequer moral pra isso mete uma caneta num veterano zagueiro adversário.

Atrevido é o clube que, da praia, se fez um dos grandes. Único, diga-se, fora das maiores capitais do país.

É preciso atrevimento para ignorar o Jabaquara, determinado como rival pela geografia, e ir buscar o Milan, o Boca, o Corinthians.

Foi preciso pensar grande para manter em um time da praia o tal Pelé, que poderia muito bem ter optado por jogar num clube do então glamoroso futebol carioca ou num dos maiores da capital.

Com ele, através dele e apesar dele, o Santos se fez gigante.

Quando se experimenta o topo, nada além daquilo satisfaz. Clubes grandes são cobrados sempre pelos seus grandes momentos, nunca com tolerância pelos “novos tempos”. Imagine ter que ser cobrado sempre com a “era Pelé” como referencia.

Ali, na praia, longe do dinheiro, da grande mídia e dos grandes rivais. Num estádio pequeno, ostentando uma torcida antiga, diferente, não tão grande.

O Santos era aquele clube que não podia errar. Se errasse, encolheria, pois andava no limite entre um time praiano de uma grande safra e um gigante do futebol brasileiro e mundial.

Anos se passaram e, de novo com um negro magrelinho e ousado, o Santos foi protagonista. Sempre ao seu estilo, a sua maneira, sem jamais se permitir mudar pra agradar a maioria.

O Santos é aquele clube que dá alegria pra poucos mas que encanta todo o resto. Não faz dos seus títulos meras histórias de conquistas comuns. Faz de cada um deles uma recheada história cheia de atrevimento, dribles, garotos e saudosismo.

Quando campeão, é aquele Santos brilhante, raramente o pragmático e comum.

Retomou, atrevido, com garotos, usando da mesma fórmula que o fez existir, sua condição de protagonista. Ali, com Robinho, Diego e cia, se colocou na condição do clube das safras maravilhosas.

Quando bem reforçado nem sempre brilhou. Aliás, convenhamos, raramente brilhou. Quando apostando em seus próprios frutos, fez história.

Hoje com Neymar e Ganso, outro dia com Robinho e Diego, lá atrás com Pelé e cia. Santos sempre Santos, daquele jeito, do mesmo jeito.

O time de Pelé deu ao Peixe a chance de “aparecer”. Como raríssimos clubes, gostou e ficou.

Hoje, centenário, não é dono de uma das maiores torcidas do país. Sequer do seu estado.

Mas é, facilmente, o mais conhecido clube do seu estado e provavelmente de seu país.

Talvez não por ser “O Santos”, mas por inevitavelmente ser “Aquele Santos de Pelé, hoje Santos de Neymar”.

O maior do passado e a maior perspectiva de futuro brotaram do mesmo chão.  Não pode ser um chão qualquer.

Atrevido, peitou a Europa e disse “não! Meu garoto fica!”. E ficou.

Hoje, dos badalados times brasileiros cheios de dinheiro, com cotas de 100 milhões e ex-jogadores de Barcelona, Real Madrid e Milan em seus planteis, brilha mais forte o “menino da Vila”.

Como sempre, ou quase sempre.

Nasceu pra ser mais um, não aceitou. Atrevido, ousado, audaz, foi ser gigante. Não satisfeito, os superou, foi número um.

Imortalizado, hoje, revive nos pés de Neymar a história que lhe fez gigante.

Desconcertante, humilhante, atrevido e aplaudido.

Este é o Santos. Centenário, glorioso, invejado e, de novo, protagonista.

abs,
RicaPerrone