“A Verdade vos Libertará”

torcida As vezes as pessoas se resumem a uma partida para analisar um treinador ou um jogador. A propria imprensa faz isso toda hora. As vezes, não. E o processo de queda do Muricy é longo, já vem desde junho de 2007.

A história vale um livro. Os bastidores do SPFC nunca foram tão controversos, nem os resultados em campo. Muricy é uma lenda. Sai de cabeça baixa pelo momento, e de cabeça erguida pelas conquistas.

Mas, não é só isso. Eu tive o privilégio, como sócio, torcedor, dono de um site tricolor e jornalista, de acompanhar tudo muito de perto. Todos os lados. Torcida, conselho, diretoria, treinador, elenco, organizada, enfim, vi todos os lados em 3 anos.

O SPFC não é, nunca foi, o Manchester. Canso de dizer isso e levar patada por ser “anti-SPFC”. Não é verdade. Sou apenas informado o suficiente pra não me empolgar com fases e saber que existe lixo embaixo do tapete de qualquer clube, inclusive do Tricolor, o maior das Américas.

Existe tudo, dirigente ruim, gente honesta, gente competente, etc. Existe em toda empresa, e existe no SPFC também. Eu sei, vejo, conheço, e só não fico abrindo a boca de dizer que tem isso ou aquilo, porque sou da filosofia de que jornalista que acusa ou insinua coisas e não prova tem nome. No meio, é “polemico”. Pra mim se chama “cuzão” mesmo. Desculpa o termo, mas eu sou assim… claro e direto.

Eu nunca vou ficar dizendo que tem isso ou aquilo exatamente, que aquele ou outro é ladrão. Mas o futebol é podre. Em todo clube existem pessoas ruins que fazem coisas por debaixo do pano. O SPFC não é diferente, pode até ter menos, mas tem coisa errada como toda empresa tem. O que não significa que a diretoria saiba e permita.  Nem que eu vá acusar alguem em especifico de alguma coisa, pois só o farei quando tiver provas.

Em resumo, onde quero chegar, é que o SPFC não é a imagem de perfeição que passa pra sua torcida. Não por ser incompetente, mas porque NINGUÉM é perfeito como o SPFC tenta ser.

Em 2007, quando o time fez um primeiro semestre ridiculo, a coisa ficou feia. A torcida questionou, a LG parou de pagar e o time ficou sem salários. Sim, amigos. Acontece no SPFC também. O time perdeu de 4 do Azulão. Perdeu a Libertadores pro Gremio quando contratou Dago e J. Wagner. Muricy não quis escalar, perdeu, e caiu na sua conta.

Era insustentavel. Juvenal ouviu a diretoria e bancou, sozinho: Ele fica! E ficou.

Teve aquele jogo com o Corinthians, 11 contra 9, 0x0. A coisa ficou feia. E ele bancou que aguardaria dezembro pra mudar. Ele foi campeão brasileiro, e neste momento o SPFC já tinha as contas acertadas com os jogadores. Mas, no SPFC nada vaza. Por isso que quem sabe e questiona passa por corneteiro.

Ficou, com moral.

Veio 2008 e a diretoria focou: Libertadores.

Trouxe Adriano, carlos Alberto, manteve a base, foi buscar F. Santos e o Muricy não conseguiu fazer o time jogar. Como todo ano, a chapa esquenta, o time perde a Libertadores e o Paulista, o Juvenal chega la e cola nos jogadores. Diz que cabeças vão rolar, muda uma peça ou outra no time, e o time vence 2 ou 3 jogando mal, mas correndo muito.

A crise diminui. O time engrena.

Mas, em 2008, o time não engrenou. Foi chegando no Brasileirão de forma inacreditavel. Vencendo mal, se arrastando, enquanto os lideres perdiam pontos absurdos.

A diretoria, la dentro, criticava muito o treinador e  a forma do time jogar. Quando faltavam 10 rodadas, o time ja estava disputando o titulo. Os cornetas internos ja se calavam em virtude da euforia do titulo. Mas, numa analise de planejamento, todos diziam: “Precisa jogar mais, assim nao dá”.

O Brasileirão apareceu. Em casa, de novo, o titulo não veio quando esperavam. Veio na semana seguinte, com um gol impedido, jogando feio, daquele jeito. Mas, campeão.

O Muricy não gostou do time no ano, nem ninguem. Mas o titulo apagou tudo isso.  A situação financeira do SPFC era ruim. 40 milhões em emprestimos e mais um saldo negativo de 15 milhões, que foi amenizado em dezembro com parcerias para a Copa 2014. O balanço do ano fechou quase zerado, mas havia um emprestimo alto pra tapar o buraco.

Não por um erro administrativo, mas por não ter vendido ninguem.

2009 começa e o Juvenal dá o time que o Muricy queria. Ele, em off e até no ar, dizia: “Eles me deram tudo! Eu preciso e vou ganhar a Libertadores”.

O tempo passa, o caixa vai ficando vazio. O time não joga nada, não engrena e os problemas começam a surgir no elenco. Jogador reclama que não joga, outros que são improvisados, todos insatisfeitos. Muricy não gosta de papo. O time começa a se irritar e perde o tesão. Ele não baixa a guarda e bate de frente.

Mantem o que esta fazendo, segue com os queridinhos e a diretoria se irrita. O time, idem. Ele peita e vai até o fim.

Na semana do jogo com o Cruzeiro, gripa e não vai treinar. No último treino, dá um rachão. O time perde a confiança no comandante.

Há 3 anos o SPFC treina rachão, bola parada e defesa. Alem dos fundamentos. Em momento algum há treino de ataque, algo ofensivo ou pensando em agredir o rival. Os jogadores de frente vivem insatisfeitos com a forma de atuar, pois nunca tem com quem jogar ou tabelar.

A situação financeira faz com que parte dos salarios (direitos de imagem) estejam atrasados ha 2 meses. Ou seja, o SPFC já não é o clube que da tudo ao jogador e ainda não tem um tecnico que agrada muitos dos jogadores. Cotia está largado, questionado. A base não sobe, e quando sobe, some.

Sem grana, com a diretoria ganhando força em cima do Juvenal, o time contra e uma eliminação, a noite de quinta foi quente.

Terminou o jogo e a revolta dos dirigentes foi inevitavel. O time não jogou nada. Correram até o Juvenal naquela noite mesmo e exigiram a saida do treinador, que ja pediam desde 2007 e perdiam a razão pelo Brasileirão.

Ele prometeu que o faria. Assim que tivesse outro técnico.

Ontem os dirigentes passaram o dia esperando a confirmação.  Até o Muricy já sabia que ia sair. Todos sabiam.

Nós, jornalistas, passamos o dia ligando um pro outro esperando a hora do anuncio. Podia ser ontem, podia ser segunda. MAs, o Muricy não é bobo.

Ficar e sair perdendo pro maior rival, prefere sair antes. Como a diretoria, grata  a ele pela fidelidade, também não queria vê-lo sair assim.

Se reuniram, Juvenal teve que fazer o que prometeu pra diretoria. Demitiu o Muricy e mandou procurar alguem. Achou o Gomes, que não agradou ninguem. Pelo contrário, gerou uma certa sensação de birra. Como se ele tivesse buscado alguem de pouca consistencia só pra dizer; “Viu? Não tinha opção”.

Mentira. Tem, e bastante. Cuca, Dorival, Guedes, entre outros mais consagrados que estão empregados e necessitariam um salário mais alto.

Mas, Juvenal é assim. Manda sozinho, afasta quem discorda dele. Ignora a visão de dirigentes competentes e vai privilegiando apenas os que estão ao seu lado.  Bateu de frente, e quando perdeu a batalha, fez do seu jeito. Apostou alto, com risco grande de perder. E se perder, culpará os que pediram a mudança, não a sua escolha.

Hoje o SPFC tem uma oposição muda, uma direção quase individual do Juvenal, uma divida razoavel, um time que ganha muito e que está fora do que queria ganhar, a Libertadores.  Pior: uma torcida que não consome durante o ano.

Cabeças vão rolar. A coisa no SPFC não é o paraiso que pintam. Nunca foi, nunca será.

Isso se deve a um fato triste, que sempre bato na tecla, ouço de todos os dirigentes de outros clubes e só os sãopaulinos não percebem. A arrogancia. O SPFC quer fazer algo inviavel.

O futebol brasileiro hoje divide fatias de um bolo pequeno. Cada clube tem a sua, mas o bolo é pequeno, logo, as fatias idem. O SPFC, ao invés de buscar aumentar o bolo e, assim todos aumentarem a fatia, tenta aumentar sua fatia dentro do bolo pequeno. De forma egoista e prepotente.

Se indispoe com todos os rivais, contrata jogadores de uma forma pouco aprovada por ai e esquece que DEPENDE dos rivais para sobreviver. Perdeu o aluguel do Morumbi, convive com enorme complo para perder a Copa em troca de novo estadio, tem pessimo relacionamento com diversos outros clubes e federações.

Isso não tem a menor chance de funcionar. Ninguem cresce sozinho no futebol. Ou cresce o campeonato, ou todos se prejudicam.

O Tricolor segue sendo o maior clube das Américas. O mais organizado, o melhor departamento de futebol, com bons dirigentes e um belo time. Competitivo, sem duvida. Mas, não é o paraiso que pintam.

Hoje, está aberto a todos: Dividas, salario atrasado, treinador caindo, mandato do presidente sob judice, oposição sem força, eliminado da principal competição que disputa, com um treinador questionado, sem receita de bilheterias, com péssimas vendas de camisas no ano e mantendo a banca de ‘aqui, nào!’.

Talvez seja hora de arrumar algumas coisas enquanto é tempo.  Enquanto são pequenos problemas com solução simples, antes que o efeito Dualib e Mustafa aconteça, também, no Morumbi.

O primeiro passo é baixar a bola, aceitar que é mais um grande clube, e não o único clube do país.

Quando está perdendo, nem tudo é uma merda. Quando ganha, nem tudo são flores.

abs,
RicaPerrone