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A teoria dos cegos

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A teoria dos cegos

Criticar, criar teses e sugerir exemplos com ar de dono da razão é o segundo esporte preferido do brasileiro. O primeiro é futebol.

Dizem, e com razão, que o tático superou o técnico, que taticamente o futebol europeu é muito melhor e que todos participam mais do jogo. Sào mais comprometidos, inteligentes em campo, etc, etc, etc.

Sim, são.

Com diferenças que passam longe das piadinhas que faço sobre os lambe-saco dos europeus e que passam ainda mais longe das teorias destes mesmos, a coisa vai mais além.

Pedem mais participação, mais tática, mais isso, mais aquilo. Driblamos, erramos, dependemos sim muito do talento individual. Cobram, então, que tenhamos Guardiolas, não mais Muricys.

Mas quem pede raramente raciocina. Pede porque é fácil pedir, sem entender picas do que tem em volta dele. Se o nosso jogador é mais talentoso tem motivo, e ele é simples. Saem da favela, jogando uma bola oval de meia num monte de pedra num campo irregular. Ali desenvolvem sua habilidade diferenciada dos demais.

Ou alguém acredita que no Brasil tenha um virus no ar que faça moleque jogar bola?

Assim sendo, de origem talentosa porém menos favorecida, é natural que apareçam com mais técnica e menos capacidade e preparo para entender um plano tático, a vida, a fama, etc.

É cultural, social. Nào diz respeito a futebol. E se disser, a troca é cara: A técnica que encanta pela praticidade atingida por qualquer um que treine.

O talento ou o esforço? O diferente ou o limite físico?

O drible que um qualquer dá por aqui e que raramente um fora de série dá por la, ou um jogo mais comum e cheio de tática, pegada e “participação coletiva”?

Eu sacaneio os fãs do futebol europeu e sei que enorme parte deles não percebe. Outros, mais inteligentes, sabem que não acho o Messi um Iranildo. Até porque, não é Europeu.

O europeu padrão é o Seedorf. Aplicado, inteligente, se cuida, joga muito! Mas se jogar pra cima 10 bolas entre ele, com 25 anos, e o Djalminha com 40, o brasileiro fará 7 dominios espetaculares e o holandês só 3. Não é “melhor”, é diferente.

O preço do nosso talento “extra” é a falta de preparo dos caras, até de inteligencia.  Não há boa condicão, e por isso desenvolve-se tamanha habilidade. Caso contrário, num condominio fechado, sairia um ótimo sujeito, preparado, mas fatalmente menos habilidoso.

Vivemos de técnica, amamos a técnica. Não é um crime sermos diferentes, crime é tentar copiar o que era mediocre e hoje, pela insistência e condição física se tornou “igual”.

Sim, igual. Nossa seleção é competitiva como sempre foi, nossos jogadores ainda são os melhores e mais cobiçados do mundo. Nada mudou.

Mudou o deles, mudou a defesa, mudou a correria. A tentativa de brecar o talento através de correria, preenchimento de espaços e, também, inteligencia tática.

Podemos correr, preencher um espaço ou outro, mas não adianta o Mourinho explicar, nossos meninos não vão entender como fazer 4 funções em campo.

Se entendessem, fariam. Mas pra entender, menos qualidade teriam.

É uma situação simples, pouco pensada, jamais colocada frente a frente, mas que gera uma cagação de regras diária dos nossos “craques” intelectuais que acham que podem racionalizar paixão e transformar o futebol em ciência.

Somos piores taticamente, mas o Alecsandro deles não mete uma bicicleta. O nosso mete, mas não fecha saida de bola do lateral.

Prós e contras, características culturais e até sociais que refletem no futebol.

Mas se quem estuda, nasce e cresce em berço de ouro não consegue ponderar e ir além do discurso basico, o que esperar do molequinho favelado que não tinha o que comer e agora, aos 18 anos, tem milhões e nenhuma noção de nada?

Troca o Joel. Coloca o Mourinho… Ele cai em 2 semanas.

Lá se fecha o meio, as laterais e as costas do volante. Aqui se fecha as pernas, porque se abrir, toma no meio.

abs,
RicaPerrone

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<b>Rica Perrone</b> é jornalista, tem 44 anos, foi pioneiro no Brasil no jornalismo independente online entre outros. Apresentador do Cara a Tapa e "cancelado". com frequência por não ter feito nada demais, especialmente não bater continência pra patota.