Técnicos ganham jogo?

É comum e até natural que num futebol pragmático, pobre em técnica e rico em tática o treinador tenha ganhado importancia. Nos últimos anos passamos a analisar os times pelo que fazem seus treinadores, como se os jogadores fossem meros robôs que obedecem 100% do que eles pedem. 

E aí entra a grande questão: Como se avalia um treinador? Resultados? Se ele ele tiver time e outro não? A forma de jogar? E se ela for bonita e incompetente? 

Treinador de futebol é o sujeito que escala, determina a forma, repassa informações de como o rival atua e quem controla o ego do seu time. Um líder, não necessariamente um terapeura, nem um jogador de xadrez. Um meio termo entre o tático, o técnico e o disciplinador. 

Você pode pegar qualquer jogo de futebol e verá que, na maioria dos casos, os dois times tem, pelo menos, 3 chances claras de gol. Se elas entram, mudam a avaliação do treinador. 

É justo?

Você tem um Romário, por exemplo, que cansou de pegar jogos perdidos e resolver sozinho. É campeão, e os méritos vão pro treinador igualmente. Quantos técnicos não se fizeram em cima de jogadores?

O Carpegiane, hoje, não é um técnico cobiçado. Mas, é o cara que comandou o Flamengo campeão da Libertadores e do mundo. E aí? É o técnico do time que melhor jogou futebol nos ultimos 30 anos. Como fica a analise? 

Quer um exemplo recente?

A final de 2002, até os 30 do segundo tempo, era uma aula tática do Corinthians sobre o Santos. Jogava melhor, virou o jogo, mandava e estava ameaçando o titulo do Santos. O Leão era treinador do Peixe, prestes a ser consagrado.

Em 3 lances isolados e completamente individuais, Robinho resolveu a final. Deu 3 gols ao Santos. 

O Leão é o cara que fez o time ganhar aquela final ou foi um jogador que lhe deu o rotulo?

Tem méritos? Evidente! Mas será que seria igual a avaliação se o titulo ficasse com o Corinthians? Acho que não. 

Treinador forma um time. Faz ele atuar de uma forma, escala os melhores e controla o grupo. O time entra em campo e joga. Se controla o jogo, toca a bola, cria chances e marca bem, o trabalho é bem feito.  A bola entrar ou não, depende 99% da qualidade de quem está la pra fazer o lance. 

Se o time erra passes de 3 metros, é culpa do time. Se está mal escalado, aí sim, a culpa pode ser do técnico.

Não gosto de avaliar treinadores pelo resultado somente. Afinal, temos toneladas de titulos na historia recente do futebol conqusitados por tecnicos que não são nem cogitados entre os tops.  Quer  ver?

Quantos titulos tem o A. Lopes? E o Joel? O Nelsinho? Algum é considerado top?

E o Tele? o que ele tinha conquistado antes do SPFC? Quase nada, perto da fama que levava. Mas, o trabalho era bom.

Perdeu uma Copa porque o futebol quis, faz parte. E a outra porque foi teimoso, aí sim, cabe critica.

Felipão, Luxemburgo e Tele atingiram niveis que não cabem discussão sobre qualidade. Talvez, fases. Mas todos eles fracassaram, venceram, teimaram, mas… ganharam muito, e por um longo tempo, em clubes diferentes, o que arrebenta qualquer tese sobre incapacidade. 

Com que argumento fica aquele sujeito que diz assim: “Mas tal técnico é campeão brasileiro!”, se o outro disser: “Ta, mas o Nelsinho também é, o Geninho também é, o Chamusca ganhou copa do Brasil, entre outros que surgiram e sumiram”. Ou alguem se lembra do Eduardo Amorin? 

Sinceramente, o Parreira tem quantos méritos na Copa de 94? Um time que marcou loucamente, jogou pouco quando tinha a bola nos pés, dependeu do Romário até pra IR a Copa, coisa que talvez não acontecesse, porque nem convocar o melhor jogador do mundo ele queria. 

Veja bem: O mérito existe. Só precisamos saber dosar o quanto. 

O Leão ganhou com aquele super-Santos, um time que resolvia 90% dos jogos de forma individual. Levou uma puta fama e… sumiu. Hoje, ninguem quer o cara.

Será que o Nelsinho ganharia aquele Paulista se o Raí não voltasse?

O que esperamos de um técnico é que ele faça o possivel com o time que tem. 

Cabe jogar feio? Claro! Desde que seu time só permita isso, ou que a necessidade em garantir 1×0 seja maior do que a importancia do clube. 

Você vê hoje um Corinthians armado pelo Mano. Não joga um futebol fantastico, nem pode. Não tem um mega-time. Tem um monstro la na frente e, em virtude disso, ele fez a equipe não sofrer gols, manter posse de bola e jogar com a cabeça.  Bola no ROnaldo, uma hora ele resolve, é claro! 

Mano fez um bom trabalho dentro de uma filosofia e o bom uso do material que tinha. 

Como o Roth foi o melhor técnico do Brasil em 2008, quando seu time foi colocado na lista de quem briga pra não cair, e foi vice, perdendo jogos bobos no fim. Dá pra enfiar a faca? Não… o time era regular, apenas. Em 2009, forçou um time covarde com peças melhores. Caiu, porque querem resultado e desempenho. 

Eles estão supervalorizados. Pagam por erros dos jogadores, mas também colhem muitos méritos que não são deles. 

Uma defesa toma o gol que tomou o Palmeiras do Sport, por exemplo. Que culpa tem o treinador? 

Culpa tem do time não ter criado o jogo todo, não pelo gol que sofreu. 

Futebol é uma disputa de 11 x 11, onde você precisa marcar bem seu rival, tocar a bola, ter controle do jogo e criar chances. O resto é detalhe, que acontece ou não conforme o acaso, a sorte, o talento de quem está em campo, o morrinho artilheiro, o juiz, etc.

Ou seja, técnico se avalia por desempenho do time.

Mancini faz um belo trabalho no Santos. Arrisca ganhar os jogos, faz o time buscar o gol e tenta, com o que tem, ser competitivo. 

Como o Cuca fez um belo trabalho no SPFC em 2004, porque não se rotula um trabalho por um erro bobo aos 46 do segundo tempo, nem pelos 2 gols perdidos pelo Gustavo Nery. O SPFC teve mais chances nos 2 jogos do que o Once Caldas. Mas… a bola não entrou. Acontece.

Diante de tamanha importancia dada aos comandantes, é hora de rever a forma de avalia-los. 

O técnico não pode ser tão importante assim. Quem contrata é o clube, e quer um exemplo de como tudo isso é complexo?

O SPFC contrata bem porque tem o Milton Cruz, certo? Ninguem discute isso. Ele formou o time campeão do mundo sem gastar nada.

Aí, em 4 anos, o mesmo Milton Cruz deve ter sido o cara a indicar os reforços, afinal, sempre foi assim.

O Muricy não conseguiu usar nem 50% deles. A enorme maioria veio e saiu do clube sem jogar. 

Como fica? O Milton Cruz agora contrata mal? Ou o tricampeão brasileiro é quem não sabe usar jogadores?

Dificil né? Porque o mesmo cara que acha que o Muricy não sabe usar vai ouvir, amanhã, que o Jean foi cria dele, que o Ilsinho foi valorizado, etc…

Não existem verdades absolutas. O futebol engana muita gente todo santo dia.

Os técnicos viraram jogadores de Playstation. Eles são culpados por todos os gols sofridos e feitos. Futebol resultado é isso. Vale o placar, mais nada. 

O Brasil, talvez um dos últimos paises a adotar a filosofia do “1×0 tá ótimo”, agora supervaloriza os treinadores, que muitas vezes ganham milhares de reais pra jogar camisa pra cima. Cada coisa que ouvimos de jogadores por ai que voces nem imaginam…

Talvez seja hora de repensar o real peso de um técnico e de um time. 

Afinal, os jogadores é quem jogam e quem determinam 80% de um resultado. 

Quando a filosofia de jogo lhes permite que assim seja. E aí sim, entra o trabalho do técnico. 

Ou alguem vai dizer que, no fim do ano, se o Tite ganhar o Brasileiro com 20 pontos na frente, ele se torna o melhor técnico do pais? Acho que não, né? Lembrarão que ele tinha o melhor time, disparado? Que fez SIM um bom trabalho na medida em que seu time marca gols, sofre poucos e joga um futebol consistente com titulares e reservas. Mas, claro, lembraremos do time que ele tinha. 

Como devemos lembrar que o Cuca fez um Botafogo forte com um time apenas razoável. 

Qualquer técnico, ao ser avaliado, terá argumentos a seu favor. Como qualquer critico, ao ser questionado, terá argumentos pra criticar. Futebol é um esporte indiscutivel, que adoramos discutir, e que não chegamos nunca a conclusão alguma. 

Por isso o adoramos. 

abs,
RicaPerrone