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Não é emprego. É sonho

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Não é emprego. É sonho

Em frente a Tv, 21h20, segunda-feira, 4 de junho de 2012.  Alertado por amigos via twitter fui assistir a São Paulo x Atlético PR, final da Libertadores de 2005, que pra mim, sãopaulino e naquele dia de folga, foi algo mais do que especial.

Daquela arquibancada vi os 4 gols, coloquei a faixa no meu pai quando Luizão fez o terceiro e chorei por 11 anos entalado desde que Chilavert veio ao Morumbi criar a pior noite da minha vida.  Não havia jornalista algum ali, era só eu.

E hoje, revendo, me emociono de novo e corro pro computador pra escrever. É hábito. Toda vez que o futebol me emociona eu escrevo, pois não me permito falar sobre ele apenas de forma superficial ou trata-lo como profissão.

E hoje, vendo um campeão mundial como Luizão chorar como uma criança ao ser substituído, ao ver Fabão chorando de joelhos ao fazer um gol de cabeça e especialmente ao acompanhar as reações do Alex Bruno, zagueiro titular daquele time, no twitter, eu notei que estamos cometendo um erro.

Eu mesmo já disse aqui que a relação é clara, que o discurso é simples e comparei futebol com empresa. Tem que pagar em dia, tem isso, tem aquilo.  Já pensei em justificar qualquer problema com salários no desempenho do sujeito, mas…  não é isso. Não pode ser só isso.

É um crime minimizar a isso.

A relação funcionário / patrão, aquela tese de “eu pago e você faz o seu”, é muito pequena no futebol. Ela é racional, correta, coerente, mas o futebol a transforma em imbecil.

Imbecil sou eu que penso no salário do craque ao avaliá-lo em campo. Procurando motivos para aliviar o lado do cara, um atraso, um probleminha na diretoria ou alguma tese fria que tente colocar jogadores de futebol na condição de funcionários comuns.

Não são! Não podem ser.

O futebol paga você também em dinheiro, mas está longe de ser só isso. Você deve satisfação, deve respeito e ganha, com o cargo, um poder que não merece. Mas ganha.

Nas suas mãos, ou pés, milhões de cidadãos depositam um dia melhor amanhã. Milhões choram, mudam suas vidas e transformam uma noite de quarta-feira no “melhor dia de sua vida”  por causa de um chute na trave ou um pênalti que você converteu.

Não é um discurso romântico. É a minha vida. É fato. Eu vivi até hoje “pautado” por futebol. Acordei feliz, euforico ou triste nos últimos 33 anos por isso.

Não é um emprego. O discurso está errado, não tem como o profissionalismo tirar a magia do futebol e nem a grandeza involuntaria dele. Pode trocar 20 presidentes ruins num clube, nada disso importa quando um garoto de 18 anos chora de alegria por uma conquista e transforma suas próximas 2 gerações em apaixonados torcedores só por aquele dia.

O gol do Pet, por exemplo, não tem nada a ver com salário. Não existe chefe, preço, justiça do trabalho ou qualquer merda inventada pelo homem capaz de estar acima do que aquilo significou de fato.

Luizão, artilheiro maior do Brasil em Libertadores, não poderia estar chorando de tristeza indo ao Japão ganhar milhões, poderia?

Sim, porque é futebol. Não é um emprego, não é uma relação simples de produtividade e pagamento.

Profissionalizem, transformem em empresa, vendam o clube, façam o que for. Enquanto um sujeito desses puder olhar em volta e ver milhares gritando por ele, outros chorando de alegria pelo que foi feito e uma história sem fim registrando o nome dele num ritual de adoração irracional, não será um “emprego”.

Ser jogador de futebol é uma benção. Um cargo remunerado que Deus dá a alguns seres humanos para brincar de se sentir como ele. Ali, de chuteiras, fazem chorar e sorrir. Criam histórias e destroem sonhos.  Em 90 minutos um doente esquece o cancer. Em 90 minutos o homem mais rico do mundo pode gritar bem alto que “não merece isso!”.

Não são profissionais, não são assalariados, nem mesmo pobres coitados pressionados por uma multidão de criticos injustos.

São seres abençoados capazes de, sem sequer te conhecer, se tornar a pessoa mais importante e adorada do mundo por um instante.

Não diz respeito a salários, dinheiro e justiça. Diz respeito a vida.

Futebol aqui não é profissional não porque “não quer”apenas, mas porque não consegue. É paixão demais, é significativo demais, importante demais para se resumir a uma profissão.

Profissão tenho eu, você, tantos outros.

Eles tem é sorte. Muita sorte. E uma oportunidade muito maior que dinheiro de ser o herói da vida de milhares de garotos espalhados pelo país.

Aos meus heróis, obrigado! Aos meus vilões, idem.

A quem pensa, como eu as vezes penso, que futebol é negócio e basta pagar para ter algo em troca…  Vá com Deus.

Você morreu.

– Dedicado a Alex Bruno, zagueiro do Paraná. Hoje meu amigo de twitter, meu entrevistado se necessário, minha pauta até então. Mas pra sempre, queira ou não, um dos “heróis da minha vida”. Isso é futebol. 

abs,
RicaPerrone