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Incansável Scolari

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Luis Felipe Scolari é um sujeito chato pra caramba.  Teimoso, irritado, nada gentil com a imprensa e sempre se achando perseguido por todos.  Vencedor como poucos, motivador fabuloso de elencos limitados, sempre optou por um time que corre e obedece do que ter que domar craques de personalidade, digamos, “forte”.

Felipão é um ídolo brasileiro. Campeão da Copa, algo que fez do Parreira um técnico top pelos 15 anos seguintes só perdendo, imagine com o gaúcho, que segue ganhando.

Ele não é adepto de um futebol bem jogado. Seus times sempre foram de bola parada, defesa forte e gols de cabeça. Uma espécie quase futebolistica que ganhou espaço exatamente naquela sequência Parreira/Felipão na década de 90.

Ali, nosso futebol virou a porcaria que é hoje.

Por culpa dele? Não.

Ele é gaúcho, de uma escola que joga assim. É cultural que seu futebol seja mais “brigado” do que jogado.

Felipão desafia a lógica e prova que futebol não é feito apenas de talento. Pelo contrário, ele é um dos que mais ignora isso.

Cansamos de ver o “craque” do time ser afastado por ele. E cansamos de ver ele ganhar o grupo com isso, fazer um time que corre muito, se defende bem e ganha.

É gosto. Você gosta, o outro não gosta.

Felipão gosta. E dá certo.

Diferente de outros, quando tem um time de qualidade nas mãos o jogo não é feio. Ele segue prático, mas não torna o jogo feio.

Portugal e Brasil que o digam. Jogaram um futebol bastante aceitável em suas mãos.

Hoje ele dirige o Palmeiras, um dos clubes onde brilhou antes da ida a seleção.  Ali,com um elenco sem grande qualidade técnica, encontrou apoio da torcida, diretoria, nenhuma perseguição pra montar seu grupo (Né, Luxa?) e foi dando sua cara ao time.

Hoje o Palmeiras não é um time brilhante, e nem pode ser com as peças que tem. Mas ele joga perto do seu limite, o que é mérito do técnico.

O que mais me impressiona neste Palmeiras não é o Kleber, jogador que ainda me guardo no direito de considerar apenas bom, nem o Valdívia, que mal jogou, muito menos o Lincoln do “vai-não-vai”.

É exatamente o “tesão” do Felipão em comandá-los.

O sujeito veio do Chelsea, da seleção… Ele não deve se empolgar muito olhando o time que tem. Repito: Não é ruim, mas não é “especial”.

Ele volta ao Brasil e, calejado, cansado, rico, consagrado… é o mesmo Felipão de antigamente.

Irritado, chato, louco pra “calar a boca” de quem o critica, etc.

Ele ainda vibra com o jogo, fica tão irritando quanto em 1999, quando ainda estava “provando” que podia dar certo fora do Sul com aquele estilo de jogo que, a época, a torcida palmeirense tanto condenou.

Sabe aquele sentimento de “raiva” que faz bem? Quando alguém te diz: “Voce nao consegue” e aquilo é tudo que você precisa pra conseguir.

Felipão guarda isso como um garoto em começo de carreira. Como poucos, leva isso ao elenco e não a toa o discurso de torcida/diretoria/técnico/jogadores é identico! Ele uniu os lados todos em torno de uma busca.

A imprensa questiona o clube, com alguma razão pelos últimos 10 anos, a diretoria foi lá e contratou ídolos da torcida. Não são idolos do futebol, são idolos do Palmeiras, tirando o Felipão. Isso “fecha” grupo e “fecha” a relação torcida/time.

O Kleber, por exemplo, nunca será pra qualquer torcedor comum ou até pra imprensa 50% do que ele é pra torcida do Palmeiras.

E fazer disso um motivo pra “vamos calar a boca deles” nas mãos de um Felipão é questão de dias. E, genial como sempre, ele fez.

O Palmeiras joga pra provar, pra vencer a todo custo. Joga como quem luta por “direitos” e não apenas pelo bicho.

Essa união, essa sintonia fina que vemos hoje lá é mero replay do que vimos no Grêmio, no próprio Palmeiras e na seleção.

Felipão impressiona tanto quanto irrita.

Aos 62 anos, rico, consagrado, ele continua com mania de perseguição. Da mesma forma que continua com fome de vitória e sabendo transformar tudo que pode em combustivel pro time correr mais e mais.

Eu odeio o futebol mal jogado. Eu não gosto de quem tem mania de perseguiçao.

Mas eu sou fã do Felipão.

Pode isso?

abs,
RicaPerrone

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<b>Rica Perrone</b> é jornalista, tem 44 anos, foi pioneiro no Brasil no jornalismo independente online entre outros. Apresentador do Cara a Tapa e "cancelado". com frequência por não ter feito nada demais, especialmente não bater continência pra patota.