Fé!

“Papai do céu, 

Eu tenho 15 anos e queria ver meu time campeão. Estou cansado de sofrer e ver meus amiguinhos ganhando e comemorando títulos. O senhor poderia me dar de presente um título que não fosse o carioca?

Obrigado
12/05/2013

Caio”

– Gostei do garoto. Providencie,  São Pedro.
– Ok, senhor. Enviarei saúde ao holandês e pontaria ao magrelão alto.

“Papai do céu, 

Fecharam nosso Engenhão. Eu sei que ficou mais difícil, mas não esquece do meu pedido, tá? 

Obrigado
Caio”

– Moleque de fé. Merece.  Oooo São Pedro, dê mais sorte aos meninos do alvi-negro.
– Senhor, temos que fazer com que algum dinheiro segure a situação. Sabe como são os humanos, só se esforçam por ele…
– Venda um deles se precisar. Mas não quero o garoto sofrendo de novo.

“Papai do céu, 

Eu não sei como te pedir isso. Mas venderam o Felipe Gabriel e eu estou com medo de não conseguirmos manter a liderança. Sabe, o Botafogo é tudo pra mim. Nos ajude a continuar brigando pela taça. 

Caio”

– São Pedro. Mande algo melhor pra eles.
– Senhor, eles não podem pagar. Fecharam o estádio, estão com problemas.
– Então ilumine um dos que já estão lá.
– Tem um tal de Vitor, mas é reserva, nada demais.
– Dobre o talento do rapaz.
– Tem certeza?
– Tenho. As vezes é preciso dar asa a cobras.
– Não é perigoso?
– Não. Cobras são burras, voam pro lado errado.

“Papai do céu, 

Hoje é um dia de muita tristeza e decepção. Achei que o senhor me daria o título que tanto sonhei e acabei de saber que perdemos um dos nossos melhores jogadores. Acho que o sonho acabou. E eu que confiei em você… 

Caio”

– São Tomé, vem cá!
– Fala, senhor.
– Eles são como você.  Não sei mais que milagre operar pra manter a fé dessa gente. O que você sugere?
– Nada, senhor. Eles são como eu. Só acreditam vendo. Terá que dar o título pra que voltem a ter fé.
– Não. O título só vem depois da fé. Não posso inverter. São Pedro! Vem cá.
– Pois não.
– Eles jogam hoje?
– Sim, senhor. Contra o Coritiba. Aquele time que o senhor usou pra punir o Castor de Andrade uma vez. Lembra?
– Sim. Claro.  Quais as chances?
– Até que existem. Mas sem o Vitinho ficou difícil… Perderam a fé.
– Não. Não podem. Não agora.
– Senhor, infelizmente humanos são assim. E não há milagre…
– No futebol, há sim. Esqueceu pra que permiti inventarem isso? Para que pudessem sonhar, acreditar sempre, alegrar seus dias mais difíceis e principalmente, aprender a ter fé.
– É que no caso, senhor, o Botafogo já está há algum tempo ai na fila e o senhor não olha muito pra ele…
– Mas gostei do garoto.
– Mando uma barreira espírita pra evitar gols?
– Não. No sufoco eles não vão acreditar. Tem que parecer um milagre…
– Talvez um raio no estádio no meio do jog…
– Cala a boca, Pedro! Quanta besteira.  Quer saber? Chame o Mané!
– O tortinho?
– Sim. Diga que hoje ele vai descer e jogar uma bolinha pra mim.
– No corpo de quem?
– Escolhe um menino qualquer que possa fazer pelo lado direito o que Mané sabia fazer. Não lhe cause desconforto. Arrume um corpo magro, veloz.
– Acho que sei quem pode ajudar.

“Papai do céu, 

Eu acabei de voltar do Maracanã com meu pai e quero muito agradecer. Que golaço! Que vitória!  Pensei que estava tudo acabado quando saiu o Vitinho, mas ai o senhor aparece e nos dá uma nova esperança. Obrigado, senhor! Eu acredito! E não só eu! Todos nós saimos gritando que acreditamos! Obrigado! 

Caio”

– Pronto, Pedro. Manda o Mané voltar. Missão cumprida.
– Temos um problema, senhor.
– Que foi?
– O Mané disse que só sobe de faixa.
– Deixa ele. Resolvo isso amanhã.
– Bom, pelo menos eles disseram que acreditam, né?
– Sim. Aleluia! Até porque, não sei mais o que fazer. Se não acreditarem agora, até eu desisto.

abs,
RicaPerrone