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Euforia suicida

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Hoje no Engenhão o maior personagem do jogo não estava em campo. Diria que além do estádio, mas pela cidade do Rio de Janeiro, a discussão sobre o desfalcado Flamengo diante do Santos girava em torno de uma alucinação.

Enxergaram fubá num grão de milho e resolveram que era urgente servi-lo, mesmo que isso pudesse estragar a receita e causar fortes prejuízos.

O Flamengo tem Adryan, mais um dos 100 garotos que achamos que vai virar craque por ano. Ele não treina com os profissionais constantemente, é junior, acabou de fazer 17 anos e tem corpo de duende.  Viram o menino jogar bola algumas vezes nos “sub-qualquer coisa” e… pronto! Lá vem o novo Zico.

Se o Luxemburgo não juntá-lo a Thomas, Negueba e Muralha é maluco. Afinal, um cara de 17 anos que nunca jogou meia partida profissional não estar no time titular de uma decisão contra o Santos de Neymar e cia é, digamos, uma prova do quanto o Luxa é ruim.

Né?

Não, né?

“Mas porque nem no banco!?”, você perguntará.

E eu direi que, no banco, ele seria um câncer pro time. A torcida pediria o que ela IMAGINA ter em troca do que ela de fato tinha em campo. Serviria apenas para tumultuar e transformar uma promessa em gênio sem jogar.

Era óbvio que o Flamengo teria dificuldades hoje. Não tinha 90% da sua força ofensiva e já vinha jogando mal com eles.

E com tudo que era possível -leia-se Renato, Willians, Fierro e Muralha –  não tinha milagre.

Mas torcedor vive esperando milagres. E o de hoje tinha nome: Adryan.

Candidato a novo Lulinha, não por sua culpa. Mas pela euforia causada em cima do nada. Pela vontade de enxergar um novo craque onde sequer existe um profissional.

A urgência em ter uma solução para 3 pontos domingo, que na cabeça de quem não administra vira prioridade absoluta.

Adryan pode, se vocês estiverem certos, valer um dia 20 milhões de euros. Mas pode, com risco bem maior, virar um ex-novo alguma coisa e ser emprestado amanhã pra um time da série C por 200 mil.

Você me dirá que Pelé, Neymar… opa! Calma lá. Você usou exemplos covardes.

Citou dois argumentos que deixam bem claro do quanto você está esperando do garoto que sequer estreou.

Outros estrearam cedo. Centenas, eu diria. Em 3 dias, um gol, um carrão, um monte de mulher e puxa-saco em volta.

Em 1 ano, sumiram.

Se é isso que esperam do Adryan, continuem fazendo dele um Santo sem milagres.

Se não, esperem o milagre para eleger o santo.

E isso não cabe ao Flamengo e sua torcida, pois nos últimos anos devo ter visto uns 30 Adryans aparecerem no sábado, virarem Rei no domingo e sumirem na segunda.

Se há um erro nessa história é da torcida pedir que o clube trate novos Adrianos como moedas de troca por Vampetas.

E se há uma dose de consciencia neste “novo Flamengo”, um dos sintomas é o cuidado em não queimar seus valores.

Vide Wellinton, que não saiu do time com todos os problemas que teve exatamente por isso.

Se a prioridade é fazer em casa, montar um time, criar os garotos e estar na Libertadores 2012, tudo está ótimo.

Se a sua prioridade é ganhar o Brasileirão a curto prazo, queimar mais uma safra e dane-se o amanhã…  Continue pedindo!

Talvez Negueba, Muralha, Diego Mauricio e Adryan resolvam seu problema.

Talvez se queimem rápido, fora de hora e virem a segunda versão de Djalminha, Marcelinho, Paulo Nunes, Zinho, Marquinhos e cia.

abs,
RicaPerrone 

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<b>Rica Perrone</b> é jornalista, tem 44 anos, foi pioneiro no Brasil no jornalismo independente online entre outros. Apresentador do Cara a Tapa e "cancelado". com frequência por não ter feito nada demais, especialmente não bater continência pra patota.