A rampa do ouro

Todo torcedor que se preze tem alguma superstição.  Eu tenho as minhas e conforme o jogo vai ficando mais complicado elas vão aumentando.

Pois vou contar a história da medalha de ouro que dei ao Brasil no dia 20 de agosto, no Maracanã.

Estavamos em 3. Aníbal, um amigo mexicano, Nivinha, uma amiga carioca, e eu.  Antes de entrar no Maracanã eu comentei que tinha dúvidas sobre ir ao jogo porque eu vi a estréia (0x0), a eliminação das meninas pra Suécia, e deixei de ir com ingressos no dia do ouro no salto com vara.  Estava numa fase conturbada pessoal, estive no 7×1…Porra, havia um pé frio ali!

E eu não acredito em “pé frio”. Acredito que tem momentos na vida em que você não deve estar em momentos felizes porque você está numa fase onde a vida quer apenas  te foder.  Logo, você lá significa que haverá tristeza.

Eu disse: “Se a Alemanha fizer 1×0, eu saio do estádio”.

Não fizeram. Fomos nós que fizemos.  E tudo caminhava bem até que o maldito gol de empate, somado aos insuportáveis minutos que andavam rápidos demais levaram o jogo para a prorrogação.

Ali, pra mim, era claro: Ou comigo ou com o ouro. Os dois não estariam naquele Maracanã no final do jogo. Pensei: “Eu já negociei com Deus a vitória da Alemanha na final da Copa, porque não sair de canto e negociar esse ouro?”.

Lá fui eu pra rampa do Maracanã, sozinho.  Me sentei e comecei a discutir com um Deus que na maioria das vezes eu sequer acredito. Argumentei que eu já tinha saído, que não precisava mais segurar o gol da vitória.  Pedi, implorei, disse que era importante ganhar deles após o 7×1.

E nada…

Veio o segundo tempo e eu ali fora, só ouvindo a torcida e sem saber o que estava acontecendo. Notava, porém, que não acontecia nada, já que poucos gritavam.

Fim de jogo. Pênaltis.  E eu desci mais a rampa como quem tenta afastar a zica pra mais longe do campo.

Vaias, silêncio.  Silêncio, gol!  Vaias, silêncio. Silêncio, gol!

Eu não conseguia contar. Eu sabia que nada de absurdo tinha acontecido a nosso favor, pois so ouvia o silêncio após as cobranças. Foi quando intimei Deus e o convenci.

“Olha aqui, Cara! Se você quiser que eu saia, eu saio! Vou até a rua.  Mas se eles ganharem eu vou pregar a ateísmo até o último dia da minha vida! Porra!”.

Falei! Não diria que “na cara” porque não sei se ele tava em cima, do lado, enfim.  Mas falei!

E 10 segundos depois, as vaias…. e a explosão!  “Erraram!”.

Mas e ai? Empatou? Diminuiu? Estamos na frente? Não sei! Corro pra dentro do estádio e encontro policiais (meio estranhos, diga-se. Eles estavam trabalhando e não vendo o jogo. Gente louca).  Perguntei: “Quanto tá?”.  Ele disse: “Se a gente fizer ganha”.

Eu tinha, portanto segundos para me afastar o máximo possível do gramado. E corri essa rampa até lá no fim. Agachei, fechei os olhos e…. “GOOOOOL!”.

Subi a rampa querendo ver, confirmar, abraçar os amigos.  Eu precisava ver pra acreditar. Mas tinha um detalhe: Aquele gol foi o exato momento em que algumas mil pessoas correram para fora do estádio. E só uma pessoa estava correndo de fora pra dentro.

Apanhei. Mas apanhei feito argentina em final.  Mas cheguei. Já mais calmos pelos minutos que levei até chegar ali, eles comemoravam a medalha com lágrimas nos olhos.  Lágrimas que também tinham nos meus, e que contestavam todos os analistas de alegria alheia o quanto valia aquele ouro.

Valeu demais.

E Deus, se liga… temos que conversar sobre novembro no Mineirão. Brasil x Argentina.

abs,
RicaPerrone