A Copa que não queremos ver

“O futebol mudou”.

É incontestável. Na verdade, a falta de mudanças no regulamento fez com que o jogo mudasse e se adaptasse até chegar ao nível atual.  E hoje, reconheço, nem acho tão ruim quanto em outras Copas quando o 1×0 de bico pro alto e bola alta eram a única opção dos mediocres.  Hoje todos jogam pelo chão, errando menos, arriscando menos, mas numa intensidade muito maior.

Gosto? Não muito. Ainda sou fã do meia que pára a bola e olha pra frente. Mas hoje, se ele parar, vem dois e tomam a bola dele em meio segundo. O espaço acabou, a técnica não é mais nada sem força e velocidade.  Os três, aliados, no mesmo nível, formam um craque.

“Não tem mais bobo no futebol”.

Tem sim. Somos nós, comentaristas.  Repetindo frases feitas como essa o tempo todo e minimizando as coisas a quadros táticos e números.  Achando que desenhar um 442 encontra os problemas de um time que muda a formação 3 vezes por etapa de jogo.

O futebol é rápido, intenso, forte e a grande mudança não é nenhuma dessas. A confiança ainda é muito mais relevante que o posicionamento, ainda que façamos questão de não reconhecer.

Onde ontem se buscava o acerto, hoje vence quem minimiza o erro. E não me refiro a defesa, mas sim ao ataque.  Passes curtos, rápidos, previsíveis porém sem grande margem pra erro.

O jogador que arrisca um grande passe longo a cada 3 está fora do mercado. O que acerta 15 de 3 metros entre 15, é um grande jogador.

O jogo buscou nivelar o que era um baile de quem sabia jogar.  E diga, meu caro: Quem não pode aprender a correr e se posicionar? O futebol de hoje pede muito menos talento natural e muito mais disciplina.

E desde quando os craques eram craques por serem disciplinados?

Ao contrário. Eram teimosos, faziam o que dava na telha. Hoje, se fizerem, caem na base pra um grandão qualquer que toque de lado e não erre.

A Argélia não é melhor que a Alemanha. Nem o Chile que o Brasil. Menos ainda a Nigéria que a França.  Mas “ser melhor”, hoje, não tem a ver com técnica.

Há beleza nisso, se souber observar.  Mas há, também, um caminho sem volta em busca da mediocridade.

Que desde que competitiva, serve.

O vexame da Copa não seria a eliminação do Brasil, nem a Espanha, menos ainda a Alemanha.  Somos nós, comentaristas que não conseguimos até agora perceber o que de fato está acontecendo e continuamos prevendo o óbvio, tratando derrotas como surpresas em virtude de um tipo de jogo que permitimos tomar conta do  nosso esporte favorito.

Agora mudemos a forma de ver o jogo. Pois eles não vão mudar a forma de jogar.

abs,
RicaPerrone